A história da música portuguesa coloca Tó Neto na posição de pioneiro da música electrónica nacional. Tal facto não deixa de ser curioso, dado que a história pessoal do músico é feita de constantes adiamentos: António Eduardo Benedy Neto nasce em Luanda em 19 de Outubro de 1955, mas apenas vem para Portugal em 1973. Daí até ver editado o seu registo de estreia, intitulado "Láctea", decorreriam mais dez anos – na altura precisa em que o "boom" do rock português abriu o mercado à nova música urbana portuguesa. Apresentado pela primeira vez ao vivo no Planetário Calouste Gulbenkian, de onde aliás também provém a imagem utilizada na capa, "Láctea" é hoje um objecto curioso: se por um lado apresenta uma visão daquilo que, na década de 80, se julgava vir a poder ser o futuro, por outro, a utilização de tecnologias próprias da altura, nomeadamente de sintetizadores e caixas de ritmos rudimentares, soam hoje a algo que estará para sempre aprisionado no tempo, qual snapshot que regista apenas um dado momento fortuito, capaz de desviar a atenção do ouvinte, em relação à ligação entre o instante e os outros elementos da narrativa. Recorrendo aqui e ali a referências do rock progressivo dos anos 70 (o início de “Zuzu” é claramente inspirado na primeira parte de “Shine on Your Crazy Diamond” dos Pink Floyd), Neto faz valer a sua veia new-wave, dando aos temas uma vitalidade que contrasta vientemente com a derrocada do rock progressivo sinfónico, causada por uma indústria que procurava agora, a nível mundial, reduzir custos. "Láctea" surpreende sobretudo pela maturidade das composições: o álbum é bastante regular, quer a nível da harmonia, quer a nível do ritmo, havendo, se quisermos entrar em teorias da conspiração, uma relação directa entre quase todas as faixas que o compõem. De fora desta nossa pequena teoria fica apenas o tema “África Blue”, que corresponderá a uma referência às origens do músico. Ao contrário do que faria supor toda a estética do disco, tanto a nível musical, como gráfico, “Láctea” dá assim mostras de ser um álbum mais virado para dentro, para o Presente que então se achava Futuro e que agora soa a Passado. Mas as boas recordações, quando e desde que mantidas como tal, são um nutriente essencial para a construção dos espectros temporais que se avizinham, e desse modo, poder-se-á dizer que, embora Tó Neto não tivesse adivinhado o futuro, terá contribuído de forma decisiva, para que alguma da música actual se considere ela própria como futurista. Tó Neto foi também o autor da banda sonora do filme "Vidas" de António Tavares Teles e da peça "Amadis de Gaula", encenada por João Mota. O segundo álbum, "Big Band", é editado em Janeiro de 1987. Neste disco colabora o saxofonista Leonel Cardoso. O disco foi lançado em Angola no ano seguinte. "O Negro" é o nome do terceiro disco tendos ido lançado em Junho de 1989 pela editora MBP. Foi músico residente na RTP com quem tem colaborado e participado em inúmeros programas televisivos. Entre 1989 e 1992 viveu em Los Ageles e estudou na Roland USA, Korg, e nos Angel Studios onde se formou como instrutor de Música Electrónica. Ao regressar a Portugal edita vários álbuns entre os quais "Angola", "Planetário", "Maravilhas do Mundo" e "Nectar". Reside no Algarve onde tem um Estúdio de gravação de Música e edição de Filmes.
DISCOGRAFIA
LÁCTEA [LP, Diapasão/Sassetti, 1983]
BIG BANG [LP, Materfonis, 1986]
O NEGRO [LP, MBP, 1989]
WAVE VIEW [CD, Edição de Autor, 1992]
ANGOLA [CD, Movieplay, 1994]
PLANETÁRIO [CD, Farol Música, 1999]
SALVA OS ANIMAIS [CD Single, Farol Música, 1999]
NECTAR [MP3, Monami Productions, 2007]
MARAVILHAS DO MUNDO [MP3, Monami Productions, 2007]
COMPILAÇÕES
EXTREME PASSION [CD, Discossete, 1997]
Este blogue é uma cópia (feita em boa hora) do extinto Under Review https://underrrreview.blogspot.com/
terça-feira, 4 de julho de 2017
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