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domingo, 23 de julho de 2017

CAVALHEIRO

Cavalheiro é Tiago Ferreira, antigo membro dos Dance Damage, Veados com Fome e dos Território. Actua e edita individualmente sob esta designação desde 2009, tenho já lançado um primeiro EP homónimo em 2009 e o seu álbum de estreia "Primeiro", em 2010. Em 2011 lançou um novo EP, "Farsas", produzido pelo próprio Tiago Ferreira e gravado em Fevereiro desse ano nos AMP Studios de Viana do Castelo por Paulo Miranda que esteve também encarregue da mistura. Participaram neste EP, Filipe Ferreira (bateria, membro dos Horselaughter), Gil Amado (guitarra, membro dos Long Way To Alaska), João Pedro Gonçalves (guitarra) e João Moreira (baixo). Em Cavalheiro, Tiago Ferreira segue por um caminho musical bem diferente daquele que nos tinha mostrado nos seus anteriores projectos. Larga as peles, pega numa guitarra eléctrica, aqui e ali num teclado, canta em português e segue sozinho rumo a uma estrada que o próprio define de ambiental. De facto a parte musical tem aqui e ali algumas inspirações ambientais. O que é um facto inegável é que quando Tiago mete a sua voz sobre a camada de notas debitada pela guitarra e pelo teclado, a nossa memória é assaltada por alguns temas de José Mário Branco. O caso mais flagrante é a faixa "De Nós Nada Restará". Sem ser revolucionário, o músico apresenta-nos temas simples, directos e cativantes. Segue um rumo diferente do de muitos cantautores. Pega num legado trazido dos tempos anteriores à revolução dos cravos e dá-lhe um roupagem moderna, não escrevendo no entanto letras contestatárias. Por isso, para alem de José Mário Branco, por aqui vemos igualmente espelhado um Zeca Afonso ou um Fausto. Quando Tiago decidiu ser Cavalheiro já tinha tido algumas aventuras musicais. Em Santo Tirso fez parte dos Dance Damage; tocou com Manuel Fúria de Os Golpes; esteve na formação inicial dos Aquaparque, foi parar aos Veados Com Fome. Pelo meio mudou de terra várias vezes, por causa do seu emprego como engenheiro civil: do Porto para Santo Tirso, para o Porto, para Braga. No início da fase Cavalheiro, "a estética musical não estava completamente definida". "Fiz alguma experimentação até descobrir que me interessava o formato canção". Havia, contudo, uma premissa: "Queria que fosse algo íntimo, em que pudesse falar de mim, que fosse algo autoral e em que pudesse ser autocrata, dominar o processo do princípio ao fim". Havia contudo um pequeno receio: Cavalheiro "temia não estar a ser original". E ainda: "Temia estar a colar-me ao Bill Callahan". Fazemos-lhe ver que Callahan não é, de todo, o primeiro nome que nos vem à cabeça quando ouvimos as canções de "Farsas", mas ele não concorda: "Ainda oiço muito [em "Farsas"] a forma como ele trabalha a simplicidade". Uma afirmação que vem provar que as tão propaladas influências não são, muitas vezes, nada óbvias. "Havia uma coisa que me hipnotizava na música dele e que tento emular, embora com grandes hipóteses de falhar, que é a densidade. Ele tem nervo, tem tensão", continua Cavalheiro. Nervo e tensão estão presentes no EP - só não dizemos que são os pilares das canções porque o grau de acabamento que Tiago alcança é igualmente de louvar. Depois há a já mencionada simplicidade. Não é fácil ser-se simples sem ser óbvio, e Tiago consegue-o. Nas palavras e na forma de as colocar. "Escrevo sobre Deus e doença, mas essencialmente sobre a minha vida sentimental. As minhas letras são imediatas. Gosto de acreditar que a pessoa que sou também é assim. Custa-me ouvir canções em que o significado está demasiado nublado ou é gongórico. Eu exprimo-me de uma forma simples e clara, não tento refinar em excesso". Em "Farsas", um EP que tematicamente explora "os enganos que as pessoas criam sobre si próprias", imaginando "que são caridosas, que são felizes, que vão conseguir - e não vão", ele alcança um fino equilíbrio entre imediatez e "pathos", nunca resvalando para o piroso, mas também não temendo ser simples.

DISCOGRAFIA

CAVALHEIRO EP [CDR, Lovers & Lollypops, 2009]

 
PRIMEIRO [CD, Lovers & Lollypops, 2010]

 
FARSAS [CDR, Honeysound, 2011]

 
TRÉGUA [CD, Pad, 2013]

COMPILAÇÕES

 
21 ANOS DE MPD [MP3, MPD, 2011]

 
À SOMBRA DE DEUS 04 [2xCD, Braga 2012, 2012]