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quinta-feira, 6 de julho de 2017

ANTÓNIO VARIAÇÕES

Em 1978, muito antes da edição do seu primeiro single, grava uma maqueta com algumas canções, que apresenta à editora Valentim de Carvalho, com a qual virá a assinar contrato. Contudo, terá de esperar quase quatro anos para poder lançar o seu primeiro disco. A descrição dos arranjos pretendidos para a sua música, que define "entre Braga e Nova Iorque", cria alguma confusão no pessoal da editora. Além disso, a maior parte dos temas apresentados em maqueta não passam de esboços de música e letra, gravados numa cassete caseira apenas com a voz do cantor. Durante o período de espera, é posto em contacto com dois A&R da companhia, Mário Martins e Nuno Rodrigues, cada qual com ideias diametralmente opostas quanto ao caminho que Variações deveria tomar; o primeiro apontava essencialmente um repertório folclórico, o que não chegou a acontecer, enquanto o segundo preferiu dirigi-lo para áreas mais próximas do rock. Em 1980, o jornalista Luís Vitta, que cortava o cabelo na barbearia onde António trabalhava, leva os seus colegas do programa da Rádio Re­nascença "Meia de Rock", Rui Pêgo e António Duarte, a contactar com o músico, que ainda não vislumbrava a edição do primeiro disco. Com uma equipa de gravação, Rui Pêgo vai a casa de Variações, toda pintada de verde, e grava dois ou três temas, entre os quais "Toma o Comprimido", que depois toca no programa. Tímido, Variações quase pede desculpa à equipa da RR pelo "incómodo" de lá terem ido a casa! Em Fevereiro de 1981, apresenta-se pela primeira vez em público na televisão, no programa de Júlio Isidro "O Passeio dos Alegres", transmitido em directo dos estúdios da RTP no Lumiar, como António & Variações (Variações sendo então o nome do grupo que o acompanhava). Vestido de aspirina, enquanto lança Smarties ao público e às câmaras, canta, "Toma o Comprimido", tema que grava num estúdio em Campo de 0urique depois de ter conhecido Júlio Isidro na bar­bearia. A cassete com a gravação regressa a casa com o próprio Variações e, como a RTP não guardou o registo em vídeo da actuação e o tema nunca foi gravado nem editado em disco, dela apenas resta a memória de alguns e umas fotografias (na posse de Júlio Isidro). Depois da estreia na televisão, António Variações participa nalgumas emissões do programa da Rádio Comercial, "Febre de Sábado de Manhã", apresentado por Isidro e transmitido em directo do Cinema Nimas aos sábados de manhã. A primeira destas participações decorre pouco depois da apresentação na TV, interpretando de novo o mesmo tema. Em 1982, depois de uma intervenção do irmão Jaime, advogado de profissão, junto da editora, relembrando a existência de um contrato ainda não concretizado e ameaçando a companhia de acção legal caso não sejam tomadas medidas, a Valentim de Carvalho reúne-se com António Variações e, depois de ouvir novas maquetas do cantor, conclui que está na altura de gravar. Já sob o nome António Variações (porque "é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade", comenta em entrevista a O País), edita finalmente o primeiro single, um duplo lado-A com "Povo Que Lavas no Rio", uma versão para um fado de Pedro Homem de Mello e Joaquim Campos imortalizado por Amália Rodrigues, de quem se tomara um ex-libris, e "Estou Além", um original próprio. Embora o nome impresso no disco seja o de Nuno Rodrigues, A&R do cantor, é a Ricardo Camacho que se deve a produção do tema. O sacrilégio de ousar regravar "Povo Que Lavas no Rio" cai mal em alguns circulos, mas "Estou Além" obtém a popularidade de rádio que escapa ao outro tema. "Se tivesse nascido em Nova Iorque seria um rocker, mas como nas­ci no Minho prefiro ser um folclorista que também ensaia o rock" afirmará nalgumas entrevistas, por ocasião da promoção do single. Em Junho de 1983 edita, e dedica a Amália Rodrigues, o seu primeiro álbum, "Anjo-da-Guarda", na contracapa do qual inscreve "A Amália que sempre me deu e fez sentir a importância de uma verdadeira identidade". O disco encerra, aliás, com a canção "Voz Amália de Nós", que prossegue a sua homenagem à fadista de quem era grande admirador. O álbum é o resultado de um ano de gravações tumultuosas: iniciadas em 1982 com Vítor Rua e Tóli César Machado, dos colegas de editora GNR, como arranjadores e produtores, as sessões de estúdio são interrompidas pelos desentendimentos que originam a saída do Rua dos GNR, levando a editora a programar para o final de 1982 a edição de um mini-álbum com os cinco temas que haviam ficado prontos. Contudo, essa edição nunca é publicada e as sessões são retomadas mais tarde, agora sob a supervisão de José Moz Carrapa, que termina o álbum (e ao qual é creditada na capa a produção). Anjo-da-Guarda acabará por ser uma "manta de retalhos"; aos cinco temas gravados em 1982 com Tóli e Rua junta-se «Estou Além», do single de estreia, e quatro temas orientados por Caparra. O álbum é muitíssimo bem recebido pela imprensa, que aponta a inovação e originalidade do som apresentado, bem como a presença do cantor, e a rádio (e o grande público) elegem António Variações como um dos grandes nomes do momento. Um estranho caso de popularidade transforma, de repente, o exótico barbeiro numa estrela popular à escala nacional. [Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa]

DISCOGRAFIA

 
POVO QUE LAVAS NO RIO [7"Single, EMI-VC, 1982]

 
POVO QUE LAVAS NO RIO [12"Maxi, EMI-VC, 1982]

 
É P'RA MANHà[7"Single, EMI-VC, 1983]

É P'RA MANHà[12"Maxi, EMI-VC, 1983]

 
ANJO DA GUARDA [LP, EMI-VC, 1983]

 
DAR E RECEBER [LP, EMI-VC, 1984]

 
O MELHOR DE ANTÓNIO VARIAÇÕES [CD, EMI-VC, 1997]

 
O CORPO É QUE PAGA [CD Single, EMI-VC, 1997]

 
É P'RA MANH [CD Single, EMI-VC, 1997]

 
A HISTÓRIA DE ANTÓNIO VARIAÇÕES [CD, EMI-VC, 2006]

 
BD POP-ROCK PORTUGUÊS [CD, Tugaland, 2011]

COMPILAÇÕES

 
MÚSICA NOVA, MÚSICA NOSSA [LP, Vadeca, 1982]

 
O MELHOR DO POP ROCK PORTUGUÊS 1980-1984 [CD, EMI-VC, 2003]

 
O MELHOR DO POP ROCK PORTUGUÊS 1979-1985 [CD, EMI-VC, 2004]

 
FEBRE DE SÁBADO DE MANHà[3xCD, EMI, 2006]

 
O MELHOR DO POP ROCK PORTUGUÊS 1980-1989 [CD, Farol, 2007]

 
LUSO POP [CD, iPlay, 2008]

PRESS
Elogio & Lugar Comum, Rui Monteiro, Blitz nº398 de 16-06-1992
É (outra vez) p'ra Manhã, Miguel Cadete, Blitz nº475 de 07-12-1993
A História Fugaz de um Barbeiro Pop, Promúsica 09 de 09-1997
Mais Dar do que Receber, António Conceição, Promúsica 48 de 01-2001
Descobertas Gravações Inéditas de António, Blitz 1117 de 28-03-2006