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terça-feira, 4 de julho de 2017

VITRIOL

Os lisboetas Vitriol iniciaram as suas lides em 1989, tendo editado até ao momento uma maquete intitulada "Tahafut-Ul-Tahafut" pela K7 Pirata e distribuída pela Ananana. Ouvir Vitriol é uma experiência que nos pode fazer sentir uma sensação de profunda alienação com o mundo exterior. É como se conseguíssemos escutar falaciosamente os ruídos e sons emitidos pelos orgãos do nosso corpo, estando simultaneamente absortos numa realidade sonora externa que nos remete para emoções frios, cerebrais e incisivas. Ou seja, Vitriol é sinónimo de emersão num universo de imagens hostis e alucinogénicas, uma abordagem contundente e obstinada pelos meandros mais profundos, maquinais, e consequentemente, mais insanos do mente humano, como se esta se reduzisse a um ermo gélido e ingnominioso, repleto de senti­mentos impene­tráveis. Rebuscado em experiências de um quotidiano para­doxalmente alie­nante e imanente, e na busca constante de novas e enri­quecedoras poten­cialidades sonoro­-acústicos tendo por base o estudo e transformação/manipulação da matéria sonora pré-existente, os Vitriol, projecto sonoro e não propriamente musical, conseguem de forma surpreendente, arquitectar uma massa sonora de uma rispidez ao mesmo tempo envolvente e revoltante. O projecto Vitriol move-se pois, num movimento artístico-musical facilmente conotado com algumas correntes da música con­temporânea e principalmente com nomes como Nurse With Wound, Zoviet France ou Hafler Trio, só para mencionar os mais conhecidos. Não quererão os Vitriol, com a sua música repleta de elementos mutilantes, afectar a consciência mais incauta e desprevenida? Não será porventura, a tentativa da radicalização sonora um motivo de provocação destrutiva de aparentes convenções, ou de um espontâneo e bem elaborado despojamento do espírito? É que o espectro sonoro deste projecto de Lisboa, construído com base em samplagens, mani­pulação sonora, ruídos empíricos e sons sin­tetizados provocados por diversa parafernália electrónica, molda um ambiente de eminente consternação sensitiva e claustrofóbica, quase imutável, imperceptível, mas ao mesmo tempo perturbador e destrutivo. De realçar por último, a aproximação que os Vitriol sentem pela cultura árabe - exótica e misteriosa - sem dúvida repleta de incentivos e estímulos místicos e filosóficos, que muito se enquadram na estética personalizada e felizmente ousada deste projecto extremamente interessante que dá pelo nome quase onírico de Vitriol. [Vítor Afonso 1992] 

Vitriol é um projecto sonoro e intermédia formado por Paulo Raposo e Carlos Santos que tem desenvolvido uma actividade contínua desde 1989. Radicado fundamentalmente na vertente electrónica em tempo-real, e utilizando interfaces especialmente concebidos pelos músicos, este projecto tem procurado uma interacção constante com outras linguagens e instrumentos, sublinhando uma perspectiva trans-idiomática subjacente ao próprio acto de fazer som. A ênfase é colocada na ordem da performatividade e da articulação entre diferentes categorias e estruturas cognitivas, perceptivas ou culturais, procurando uma tensão contínua entre produção e performance e recepção do som/imagem. Em 2000 este projecto foi convidado para actuar no mais importante encontro de música de computador, o ICMC2000 que decorreu em Berlim, onde participaram nomes como Merzbow, Bernard Gunther, Farmer`s Manual, Russel Hasswell, Carsten Nicolai ou Phill Niblock, entre outros. Para além do concerto, participaram isoladamente no evento Xenakis-Remix, onde Carlos Santos actuou com Zbigniew Karkoski, kaffe Mathews e Markus Shmickler, enquanto Paulo Raposo se cruzou com Peter Rehberg, Atau Tanaka e Maurizio Mortucciello. Em 2001 foi editado o CD Randonée 0.06 (sirr 2001) que reune peças compostas durante o evento Le Placard: Headphone Room organizado pela associação Buro.27 (França) e que propôs, a partir do espaço da ZDB, em Lisboa, uma série non-stop de concertos, performances, projecções em tempo-real via internet. Em 1999 os Vitriol eram formados por Paulo Raposo, Carlos Santos, Ulrich Mitzlaf, Rodrigo Amado e Pedro Leal.

DISCOGRAFIA

DISEASE MUSIC [Tape, Edição de Autor, 1990]


TAHAFUT-UL-TAHAFUT [Tape, K7 Pirata, 1991]

 
RANDONÉE 0.06 [CD, Sir Records, 2001]

COMPILAÇÕES

 
BIENAL LISBOA 1994 [2xCD, SEJ, 1994]

 
WAY OUT 01: NEW MUSIC FROM PORTUGAL [CD, Ananana, 1997]

 
EXPLORATORY MUSIC FROM PORTUGAL 02 [CD, Calouste Gulbenkian, 2002]

 
SUL: DEDICATED TO CHRIS MARKER [CD, Sir Records, 2002]

PRESS
Finisterra, Miguel Santos, Blitz nº328 de 12-02-1991
Finisterra, Fernando Santos Marques, Blitz nº384 de 10-03-1992