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terça-feira, 11 de julho de 2017

TRAUME

Os Träume surgem durante o ano de 2000, constituídos por Nuno Cruz (ex-Anguish, Long Lost Realm, Karnnos, Murder Is Fun) e Paulo Martins (ex-Anomeos, Restos Mortais de Isabel, As Flores da Náusea, Sangre Cavallum, Oktober Black). Tendo dupla sede, tanto em Guimarães como Leiria, os seus ensaios e gravações irão ter lugar em ambas cidades, tendo que se limitar aos períodos de férias de cada um dos respectivos elementos. Apesar dessas limitações, começam, logo desde os seus primeiros passos, a registar as primeiras demos, utilizando uma variedade de instrumentos que ia desde as guitarras (semi-acústica e eléctrica), aos sintetizadores, da viola ao baixo e percussões, passando pelo recurso a samplers improvisados e a variadas fontes de ruído, além das vocalizações, que estavam a cargo de ambos. Houve mesmo planos para incluir o uso de bateria, em algumas faixas (recorrendo aos préstimos do baterista dos Howl, banda de black metal com quem o Nuno havia colaborado), mas tal acabou por se não verificar, ficando a tarefa a cargo de programações rítmicas. O grupo pretendia criar temas que se inserissem na corrente europeísta exploratória que emanou de bandas como os Neu!, Can, Pink Floyd dos primórdios. O krautrock não estaria longe, mas não se pretendia esgotar a nascente nessa faceta. Os músicos, já com um longo percurso de colaborações, não se mantinha bloqueado por outras influências, facto esse que é perceptível para quem seja melómeno, conheça um pouco da História da Música urbana alternativa e experimental e possa escutar o grupo. Não tendo estabelecido limites quanto ao que queriam fazer, tinham-nos, contudo, quanto ao que não queriam. Posto este parâmetro, versaram as suas composições em temáticas que passavam pela recusa do politicamente correcto ou em poesia sombria, quase abraçando um Complexo de Thanatos, sempre com os horizontes demarcados em músicalidades de origens Indo-Europeias e de exploração das próprias raízes sócio-histórico-culturais. Aliás, e para tal, utilizaram-se as línguas francesa, inglesa, castelhana, italiana e alemã, além da portuguesa, como veículos de expressão musico-literários. Durante cerca de três anos, vão clarificando ideias e reestruturando propósitos, gravando várias composições, quer de ensaio, quer de sessão de gravação propriamente dita, chegando a contar com a colaboração de Iana Reis (Nigredo, Hyaena Reich) na vocalização de dois temas, "Lament For A Dead Civilization" e "Ó Morte Que Tanto Tardas, Ó Vida Que Tanto Duras". Porém, não ficará registada qualquer edição oficial dessas criações, facto que se ficou a dever ao término do projecto, precisamente numa altura em que já havia novas ideias esboçadas para outros temas. Alguns contactos foram estabelecidos com vista a uma possível edição limitada em vinil, contudo essa situação acabou por não ocorrer. Só em 2008, aquando da compilação da maior parte das gravações num CDR a que se designou chamar "Who Believes In Better Days?", para o blogue "Mehr Licht! Unbound" é que se pôde ouvir o som dos Träume na sua essência. Durante o ano de 2009, o CDR é novamente disponibilizado por via digital, através do blogue "Portugal Underground". O disco abraça sonoridades não distantes do apocalytic/dark folk, mas também passa pelo ritual, experimental e industrial, tendo sempre presentes o neo-classissismo ou as músicas de carácter tradicional como referências (mais ou menos notórias), passando ainda pela dark wave, num contemplar de várias tonalidades de negritude para uma música introspectiva e de líricas transpirantes de segredos sussurrados. Quanto aos seus elementos, o Nuno Cruz abandonou a cena musical, enquanto Paulo Martins irá formar os Archétypo 120.

DISCOGRAFIA

 
WHO BELIEVES IN BETTER DAYS? [CDR, Edição de Autor, 2008]