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quarta-feira, 5 de julho de 2017

THE VICIOUS FIVE

Os cinco componentes dos The Vicious Five juntaram-se em Lisboa no Verão de 2003 e ainda antes de acabar 2004 já se tinham tornado notados com um trabalho, "The Electric Chants of the Disenchanted", que acolheu generalizado aplauso nos concertos ao vivo em que foi apresentado e referências muito favoráveis da crítica. Senhores de uma sonoridade poderosa e incisiva, os The Vicious Five destacaramse também por um entusiasmo e uma capacidade de trabalho assinaláveis que veio a permitir que a sua evolução se viesse a confirmar de concerto para concerto consolidando um público fiel e despertando a atenção do mercado discográfico. “Tivemos um ano para começar a escrever o que gravámos neste disco, no primeiro EP foi qualquer coisa como cinco meses. Gravámos o EP como ‘demotape’ e depois é que decidimos lançar como CD. Este desde o princípio que foi pensado como disco, mesmo sem editora”, explica o vocalista Joaquim Albergaria (ex-Caveira, futuro Paus), à conversa com o Y na casa emprestada onde o grupo ensaia, junto à Avenida Estados Unidos da América, em Lisboa. “Não tivemos pressões de espécie alguma, foi tudo feito com pés e cabeça. Estivemos aqui sossegados, vínhamos aqui com o propósito de escrever música e era muito descontraído. Acho que isso ajudou a ser uma coisa menos ‘in your face’. Só ficou feito quando achámos que estava feito”, acrescenta o baterista Paulo Segadães. O disco surge, curiosamente, com o selo da Loop, casa editorial associada ao hip hop. “Foi tudo muito natural. Tínhamos a noção do que precisávamos de uma editora - e não somos muito exigentes. O mais importante para nós era gravar o disco”, diz Segadães. Para Albergaria, que recorda a contratação dos At The Drive-In pela Grand Royal dos Beastie Boys, o “namoro” é perfeito: “não somos só cinco pessoas que fazem música. Fazemos os nossos próprios cartazes, tudo o que é imagem; até há pouco tempo marcavamos todos os concertos, carregavamos o nosso material, faziamos tudo. É o sonho de qualquer editora, uma banda auto-subsistente”. “The Electric Chants Of The Disenchanted” era um manifesto pró-“copy and paste”, que se reflectia tanto nas letras como nos temas que pilhavam “riffs” daqui e dali. A técnica é ainda assumida pelo quinteto como “modus operandis” e como “substrato de The Vicious Five”, mas já não surge como conceito ou manifesto. “Para evitar o ‘fingerpointing’ do ‘vocês são uns ladrões’, armamo-nos em espertos e assumimos isso. Aqui, por excesso de confiança, achámos que não roubamos assim tanto, despreocupamo-nos um bocado e apontámos para outras coisas”, diz Albergaria. "Up On The Walls” acaba por ser mais político, já que é menos auto-centrado e é mais voltado para o meio envolvente. “A abordagem conceptual é diferente, mais apontada para uma dinamização da juventude, o elogio da festa e da cidade - não nos sentimos bem aqui, mas não conseguimos estar em mais lado nenhum”, elabora o vocalista. Os The Vicious Five são, pois, um bando de agitadores, que, como o activista norte-americano Abbie Hoffman, fazem a apologia da revolução só pela revolução. É precisamente ele que citam (“Revolution for the hell of it”) nas páginas centrais do livreto do disco para justificar a falta de “convicções” ou “convenções” da luta juvenil das sociedades pós-industriais. “Hoje em dia é tudo tão globalizado e maior do que o espectro que um comum mortal consegue visualizar que ninguém tem noção de quem é o inimigo”, explica. “Se não estás contente com as instituições que os nossos antepassados criaram, crias uma situação a um nível dentro do universo dos teus afectos. Temos a banda porque gostamos de fazer música, mas também para criar um nicho de afectos e de pessoas que gostem do que estamos a fazer e que sintam vontade de criar coisas também”“Não acredito que haja algum puto no mundo que não passe a maior parte da vida entediado. As pessoas ficam tão blasé por excesso de informação, estímulo e facilitismo. A excitação da caça acabou. É aí que pegamos, no tédio como combustível”, conclui. Em “Your Mouth is a Guillotine”, Joaquim Albergaria canta “The kids are doing it all over the world/They’re turning shit into gold”. Que merda e que ouro são esses? “É ir buscar [inspiração] à cultura institucionalizada e dar-lhe um ‘twist’”, explica o guitarrista Bruno Cardoso. Albergaria teoriza: “A cultura só evolui quando a crítica ao estabelecido é bem feita. E é bem feita quando reconhece que o que estamos a aceitar como instituição é um ‘cagalhão’. Esse esforço cabe à juventude. Ser-se pró-activo e egoísta e pensar num futuro para nós não é vergonha nenhuma. Viver é esperar para morrer - vamos fazer qualquer coisa entretanto”. À boa maneira situacionista, os The Vicious Five fazem a apologia do amor como arma revolucionária. Ouça-se, por exemplo, “Lipstick #5”, canção soberba cujo refrão pede beijos com línguas activas e no meio dos motins. “Quando eu e o Rui [Mata, baixista] escrevemos essa letra, fizemos um pastiche de uma data de chavões situacionistas do Maio de 68 porque estávamos a ver um documentário. Vimos um gajo que disse que só estava nas manifestações para engatar gajas [risos]. O mundo estava a cair aos bocados e a maneira mais revolucionária que ele tinha [para agir] era andar a beijar no meio dos motins. Pensámos que isso era uma alegoria para os tempos de hoje. Está tudo a ficar tão mais agressivo e frio que, se consegues encontrar amor no meio disto tudo e que seja o ‘drive’ para tudo o que tu fazes, é uma grande vitória”[Pedro Rios, Y/Público] A banda deu por findas as suas actividades na segunda metade de 2009.

DISCOGRAFIA

 
THE ELECTRIC CHANTS OF THE DISENCHANTED [CD, Loop Records, 2004]

 
UP ON THE WALLS [CD, Loop Records, 2005]

 
SOUDS LIKE TROUBLE [CD, Edição de Autor, 2008]

 
LISBON CALLING EP [CD, Optimus Discos, 2009]

 
GHOST EVICTION [CD, Nos Discos, 2014]

COMPILAÇÕES

 
ROCK SOUND 15 [CD, Rock Sound, 2004]

 
ACORDA! NOVA MÚSICA PORTUGUESA EM MP3 [CD, Cobra Records, 2006]

 
NOVO ROCK PORTUGUÊS [2xCD, Chiado Records, 2007]

 
TRIBUTO A CARLOS PAIÃO [CD, Farol Música, 2007]

 
ROCK ÀS SEXTAS [CD, CM de Vila Nova de Gaia, 2008]

 
3 PISTAS 02 [2xCD, iPlay, 2009]

PRESS
Art-Core, Pedro Trigueiro, Rock Sound nº 15 de 02-2004
Geração Terrorista, Luís Guerra, Blitz 1056 de 25-01-2005
Sintetizador, Luís Guerra, Blitz 1059 de 15-02-2005
Dos Putos para os Putos, Pedro Nunes, Underworld nº17, 10-2005
Urgência em Loop, Pedro Miguel Guimarães, Mondo Bizarre nº24, 11-2005
Defendemos o Punk com a Festa, Luís Guerra, Blitz 1099 de 22-11-2005