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sexta-feira, 14 de julho de 2017

THE DEAD OF NIGHT

Cumprindo os ritos de um primeiro sacramento, pelas mãos de Shadow, o projecto The Dead of Night tomou corpo em Lisboa, decorria o mês de Junho de 2007. Envergando um nome sonante, mas confessadamente fruto do acaso, e centrando-se na personalidade do seu mentor e elemento único, o conceito começa a desenvolver-se e a dar os primeiros passos num universo diferente do das anteriores experiências do músico. Sendo guitarrista dos Dawn of Ruin (banda de Black/Thrash Metal), e tendo passado, também, pelos Obscvrii Lvnae (outro grupo de Black Metal), Shadow sentiu a necessidade de criar algo de mais pessoal e intimista, bem como de explorar outros domínios musicais e meios de expressão sonoro-poética. É, então, neste contexto, que cria este seu alter-ego e se dedica a compor, centrando as suas atenções nos teclados e programações. Tal ideia não foi totalmente nova, sendo algo que já vinha a ponderar há algum tempo. As primeiras composições do projecto, aliás, foram o resultado de esboços que já vinha a construir (alguns deles rejeitados pelos grupos em que tocou) mas que, agora, maturavam e se metamorfoseavam em composições por direito próprio. Vivendo a Noite como Musa inspiradora, e alimentando-se das emoções a ela associadas, os primeiros temas, todos eles instrumentais, demonstravam já os preceitos basilares que, ao longo do tempo, foram sendo aperfeiçoados e concretizados. Vogando por entre o clássico/neo-clássico e o ambiental, com alguns toques experimentalistas e atmosferas pós-krautianas, as composições demonstram já referências épicas e, ao mesmo tempo, taciturnas, com um certo pendor niilista, espelhando alguns trabalhos da Cold Meat Industry ou de bandas de tendência mais ambiental na área do Black Metal. Os três primeiros temas viram a luz do dia ainda nesse ano, através da página (entratanto criada) do MySpace. Contudo, e devido a uma série de razões pessoais, 2008 só permitiria que duas composições ficassem prontas. O ano seguinte traria, contudo, novas promissoras. Por um lado, Shadow é contactado, pela editora italiana Invisible Eye Productions, para a edição de um registo. Por outro, o projecto recebe a infusão de sangue novo, com a adição de Morgana Duvessa para as vocalizações. De treino vocal clássico, e já tendo experiência musical quer na área do jazz, quer na do Black Metal, a inclusão da sua voz, de tempero barítono, veio possibilitar o desenvolvimento dos The Dead of Night e permitir-lhes o calcorrear de outras paisagens. Mais ainda, e no solstício de Verão, são convidados pela publicação Abismo Humano, para fornecerem a banda sonora para o evento multimédia intitulado “Noite Artística”, e por ela organizado, ocasião essa que incluía recitação de poesia e exposição de artes visuais. No final do Verão, recebem a proposta para colaborar o projecto ambiental Alma Púrpura, resultando o seu contributo na faixa “Silvery”, incluída na demo “Post Mortem 2”. Tudo isto concorre, então, para que o colectivo ganhe coesão e se dedique à gravação do primeiro CD, trabalho esse que culminou com a edição, durante 2010, de “Inert”. Possuidor de todos os atributos que já vinham sendo desenvolvidos anteriormente, o disco acrescenta nuances cinematográficas ao seu registo sonoro, bem como um certo toque de tragicidade operática revelando, em simultâneo, que nem todos os caminhos estão desbravados. Aliás, uma nova faixa (“Deep Grey Clouds”), não incluída no album, demonstra que o projecto não se fechou em si mesmo, tendo apenas encerrado um capítulo e começado a escrever um novo, onde o minimalismo parece ser um domínio a apropriar. [Paulo Martins]

DISCOGRAFIA

 
INERT [CDR, Invisible Eye Productions, 2010]