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quinta-feira, 13 de julho de 2017

RUA DO GIN

Em 1986, a Rua do Gin formou-se como banda em Braga, nascida de vários exercícios embrionários como os Pandemónio que, por si, também já vinham de várias direcções. Teve inúmeras formações, elementos esporádicos, estrelas convidadas como o Carlos Fortes na guitarra, ou até o Pinto Marroquino nas teclas, ambos defuntos membros dos Mão Morta. Um baterista, o Tó, não conta mais entre nós, raparigas também por lá passaram, obviamente, como a Armanda, numa tentativa de pôr um rosto velvetiano ao acontecimento. O Paulo Sombra foi um dos primeiros a conseguir pôr uma voz nesta confusão toda, durante uma ida a Lisboa ("Rebeca"), que há-de ficar nos arquivos para todo o sempre como, vamos ser sinceros, a única vez que se conseguiu pôr este simpático grupo de amigos a produzir algo de realmente interessante. Ainda hoje o mistério permanece. Lembramos a primeira colectânea subsidiada pela Câmara Municipal de Braga, o mítico "À Sombra de Deus" com capa de José Cristóvam. O Alexandre também deixou de ter paciência e um belo dia fez-se à estrada, o baixo às costas como um verdadeiro cowboy rebelde. Um ensaio à tarde, um "mi" mais que tal, e pronto lá se foi uma longa colaboração que datava de muitos anos. É preciso notar mais uma vez que as personalidades em jogo nem sempre se caracterizavam pela sua paciência. Projectos de casamento influenciaram provavel e inconscientemente a decisão da ruptura fatal. Fica no entanto como o baixista que tocava dois ritmos diferentes ao mesmo tempo. O Paulo Trindade era, obviamente, o mentor, dono dos instrumentos, o timoneiro da barca negra na sua deriva por águas turvas. Também principal compositor, guitarrista inspirado e voz secundária, ou principal, conforme as marés e as andanças. Bateristas passaram muitos pela banda: Berto Borges (Rongwrong), António Rafael (Mão Morta), Tó, que já não conta entre os vivos, e o Manuel Leite (Rongwrong). Enfim, o verdadeiro baterista que se manteve mais de duas semanas no grupo sem que houvesse conflitos, foi a Yamaha R7 ou R11, o único elemento do grupo que conseguia tocar sem levantar a voz. Baptizada de Casa das Máquinas, a única que conseguia manter o ritmo infernal contra a maré muitas das vezes tumultuosa. Falta o Tó Animal (Um Zero Amarelo), figura de proa e voz principal durante alguns tempos. Ligeiramente cabeludo e caveiano, afirmou-se como voz a seguir ao Paulo Sombra. Com o Tó, as letras ficaram ligeiramente mais engagé. A princípio eram quatro, Paulo Trindade (voz, guitarra), Manuel Leite (bateria), Jorge Moreira (guitarra) e Rui Mendes nas teclas, na bateria e depois no baixo, passaram a três no concerto da Artenata no Liceu Sá de Miranda, a estreia, a seguir os membros saíam e entravam conforme a disposição e o grau de paciência. Uma faixa, "A Casa em Frente" foi gravada no Porto, para entrar num 7"EP de quatro músicas, sendo um dos lados com duas bandas portuguesas, e outro com bandas espanholas editado pela Facadas na Noite. Reza a lenda que as fitas desapareceram antes de serem publicadas, o que viria a tornar-se uma história de desconfiança. Em 1993, o Paulo Trindade conseguiu fundos para a gravação do único álbum da Rua do Gin. A última gravação que iria acabar com o grupo, tal como o conhecíamos. Fez-se uma primeira mistura da autoria do técnico de som, do Paulo Trindade e do Jorge Moreira, mistura essa bastante dura e muito mais representativa do som do grupo que a segunda, feita pelo Paulo Trindade e uns produtores estrangeiros que ele contratou. [Jorge Moreira]

DISCOGRAFIA

 
A CASA EM FRENTE [7"EP, Facadas na Noite, 1990]

COMPILAÇÕES

 
À SOMBRA DE DEUS 01 [LP, Câmara Municipal de Braga, 1988]

 
À SOMBRA DE DEUS 02 [CD, BMG, 1994]

CASSETES
Demo Tape 1988 [3 Temas, 10:02]
Demo Tape 1990 [1 Tema, 05:36]
Demo Tape, Viana do Castelo, 1993, Versão Inicial
Demo Tape, Viana do Castelo, 1993, Versão "Censurada"

PRESS
O Barulho dos Néons, Miguel Francisco Cadete, Blitz nº271 de 09-01-1990