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terça-feira, 18 de julho de 2017

OS ELECTRÓNICOS

Os Electrónicos formaram-se em Algés, em finais de 1961, princípios de 1962, das cinzas dos Celtas, banda escolar da Francisco Arruda, com Victor Queiroz (aka Carocha, viola-ritmo) e João Robalo (viola-solo), a que se viriam a juntar António Montenegro (viola-baixo) e Mário Covas (aka Faraó) na bateria. Não tiveram outra formação. Os Celtas viriam a designar-se Electrónicos logo a seguir ao "Passatempo Para Jovens", no cinema Restelo, em Lisboa, programa que lançou também os Conchas, Alex, os Dois Rapazes, entre outros. "Tinha então uns 14, 15 anos" - lembra agora Victor Queiroz, 62 anos, reformado, designer de interiores. "Tocávamos as músicas dos Shadows, como o "FBI", o "Apache", etc" e "foi por essa altura que o Fernando Conde nos descobriu, já não me lembro como, e como o Pai dele, Arlindo Conde, era do métier, lançou-nos no "Passatempo PAC", no Eden, aos domingos de manhã, onde também passou, por exemplo, o Zeca do Rock. "Nessa altura gravámos com Moreno Pinto um anúncio para a "Rajá" que nos perseguiu durante muito tempo". Fernando Conde e os seus Electrónicos - como passaram a designar-se - participaram depois, em finais de 1963, no primeiro festival de ritmos modernos jamais realizados em Portugal: o Concurso Rei do Twist, organizado por Vasco Morgado no Teatro Monumental, em Lisboa. A final realizou-se no dia 07 de Setembro de 1963, tendo saído vencedor Victor Gomes e os Gatos Negros. Uma semana depois, a 13 de Setembro, Fernando Conde e os seus Electrónicos voltam a juntar-se em palco, desta feita no cinema Roma, para a estreia do filme "Mocidade Em Férias", com Cliff Richard e os Shadows. E aqui começa a fase mais fulgurante da carreira dos Electrónicos. "Fernando Correia Ribeiro, pai da Helena Isabel que foi casada com o Paulo de Carvalho, e o primo Elísio tinham uma distribuidora cinematográfica, Rivus, e tiveram então a ideia de organizar um concurso de bandas tipo Shadows para promover o filme. "Fomos ao concurso, mas fomos injustamente eliminados. Levámos "Nivram", dos Shadows, que era extremamente difícil de tocar e que ninguém ousava fazê-lo. Fomos os primeiros a fazê-lo" - acrescenta. "Nesta altura, já eramos só Fernando Conde e os Electrónicos. Já não éramos Fernando Conde e os seus Electrónicos, dávamos o primeiro sinal de autonomia, sem o sentido de posse que os "seus" deixava antever. O Concurso viria a ser ganho na final do dia 04 de Outubro de 1963, pelo Conjunto Mistério. Após o Concurso, os Electrónicos viriam a separar-se definitivamente de Fernando Conde e, a convite da Rivus, percorreram o País de lés-a-lés, acompanhando as exibições da película. "Foi extenuante. Uma digressão de dois anos. Tínhamos uma van branca onde íamos escrevendo a vermelho o nome das terras por onde passávamos. Ficou coberta a carrinha". "Durante a digressão da "Mocidade Em Férias", fomos em Maio de 1964 à Madeira no paquete "Funchal". Ficámos instalados no Golden Gate, que já não existe, e logo no primeiro dia tivémos de dar 3 espectáculos! Tocávamos na boîte do hotel, com o Trio Odemira, e também no Cine-Municipal. "Mas antes de embarcarmos para o Funchal gravámos à pressa na Rádio Renascença, com o Moreno Pinto, um instrumental sensaborão composto por mim e pelo Robalo a que, com falta de imaginação, demos o título de "Canção Sem Nome". E foi já na Madeira que soubémos que a canção tinha chegado ao primeiro lugar da "23ª Hora". "Com a experiência do Concurso no Roma, tivémos a ideia de fazer no Funchal, juntamente com o empresário João Firmino Caldeira, um concurso semelhante com os conjuntos locais. "Foi aí que descobrimos e demos a conhecer em Abril de 1964 o Conjunto Académico João Paulo e também os Demónios Negros, de Luís Jardim". De regresso ao Continente, em finais de 1964, Vasco Morgado organizou no Teatro Monumental uma "Festa de Consagração aos Electrónicos", que teve a participação de Daniel Bacelar, Victor Gomes e do Conjunto Académico João Paulo. No princípio de 1965, Carocha abandona os Electrónicos. A banda não tardou em desmoronar-se sem chegar a gravar qualquer registo discográfico. [Luís Pinheiro de Almeida, Ié-Ié]