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quarta-feira, 12 de julho de 2017

ODE FILÍPICA

Tenho acompanhado razoavelmente a evolução deste duo da Maceira-Liz/Marinha Grande. Penso que, com algum custo, conseguem sobreviver (como projecto musical autónomo e contínuo - as causas são mais que muitas e não dificeis de imaginar), mas, e louve-se, vão conseguindo editar umas cassetes aqui, umas músicas ali, um single acolá e o nome do projecto vai-se espalhando, não só em Portugal mas também, e talvez principalmente, lá por fora. O que já por si é positivo. Impõe-se agora, em formato digital, a grande prova-de-fogo. O trabalho de Carlos Matos (futuro Plastik Leiria Bomberz e Broto Verbo) e Pedro Granja (aka PedroINF, futuro Lá Grimas), como Ode Filipica, pode ser distinguido, grosso modo, em duas fases. A primeira. 1990-91, muito primária e pouco interessante, de tonalidade bastante cinzenta, temática gótico-depressiva, com tendência para o abuso dos processamentos sonoros (delay, distorção) para disfarçar as fraquezas das vocalizações e das estruturas musicais compostas a metro, colando-se pois a modelos da primeira metade da década de oitenta. A segunda fase, de 1992 até ao momento, é a mais estruturada, mais madura, mais personalizada. As vocalizações, com o tempo, têm vindo a melhorar -apesar de sempre terem constituido o calcanhar de Aquiles dos Ode Filípica (porque não insistir numa linha mais calma, de vocalização passiva e sensual, mais narrada do que cantada, onde a respiração seja natural e se note o trabalho de composição na pontuação e dicção do discurso?). As influências, principalmente externas, ainda marcam presença mas já não são de algum modo preocupantes. O electro-industrial "caseiro" e sujo inicial progrediu no sentido de desenvolvimento de esquemas ritmicos mais entrelaçados e marcantes, com uma sequenciação electrónica mais melódica, menos épica e menos naif. Pena é explorarem pouco o trompete e a flauta com que contaram, com bastante sucesso, no passado. "Em Teu Sonho Acordado" representa um misto das duas fases descritas. O passado ainda está demasiado presente, o que não lhes é muito favorável. É preciso ter audacidade, alma, para cortar esse cordão umbilical, de modo que a música possa fluir com naturalidade. Que venha então a outra grande prova de fogo. [Miguel Santos]

DISCOGRAFIA


IMPULSOS ANÉMICOS [Tape, Edição de Autor, 1989]

 
OFF [7"EP, Tesco, 1990]

 
RITES OF DEVOTION [Tape, Ritual de Sombras, 1991]

 
JANUSJUS [Tape, Edição de Autor, 1991]

 
OL FACIPIA DEI OR ODE'S OWN GODS [Tape, Ritual de Sombras, 1992]

 
ON ILLUSION LIVE [Tape, Ritual De Sombras, 1992]

 
JANUSJUS [Reissue] [Tape, SPH, 1993]

 
RARE TRACKS 1990-1994 [Tape, Edição de Autor, 1994]

 
COLLECTIONABLE WEIRD PIONEERISM [CDR, Esfincter, 2001]

COMPILAÇÕES


SONS DO DIABO [Tape, K7 Pirata, 1991]


ECOS DO TROINO [Tape, Portal da Gafarra, 1992]


FACES OCULTAS [Tape, Anti-Demos-Cracia, 1992]


FÓSSIL SAMPLER [Tape, Grito Tapes, 1992]


T-SECRET SESSIONS 02 [Tape, Peresgótika, 1992]

 
CYBERNETIC BIODREAD TRANSMISSION [CD, Simbiose Records, 1992]

 
BORDERLINE [CD, Simbiose Records, 1993]

 
DIFFERENT FORMS 02 [2xTape, Hands Productions, 1994]


MEN-AN-TOL [Tape, Ant-Zen, 1994]

 
RITUAL ROCK 01 [CD, Numérica, 1995]

 
SOL DE PEDRA 01 [CDR, Sol de Pedra Magazine, 2006]

PRESS
Finisterra, Miguel Santos, Blitz nº337 de 16-04-1991
O Ser Ode Filípica, Nuno Ávila, Ritual nº5 de 05-1995
Campo de Sonhos, José António Moura, Blitz nº398 de 16-06-1992
Ode Filípica, Miguel Santos, Ritual nº8 de 1995
A Poesia dos Sons, Nuno Ávila, Kadath nº1, 1994