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segunda-feira, 10 de julho de 2017

MANUELA MOURA GUEDES

Nascida no Cadaval em 1955, foi em 1978 que, quando frequentava o último ano do curso de Direito, é admitida na RTP como locutora de continuidade. No início assinava Manuela Matos. Em 1979 apresenta o Festival da Canção com Fialho Gouveia e ainda nesse ano, quando participava na sessão experimental do concurso "Écran Mágico", vê os seus dotes vocais reconhecidos. A carreira de Manuela Moura Guedes, como intérprete, foi relativamente curta. Em 1979, grava um single, "Conversa Fiada", pela Nova, ao qual se seguirá um outro, "Sonho Mau", no ano imediatamente seguinte. Estes registos não se podem considerar propriamente como auspiciosas estreias. Misturando um nacional cançonetismo insípido, tão próprio da época nas edições “mainstream” que por cá se produziam, com uma "modernidade" forçada, introduzida pelo enquadramento dos temas numa secção rítmica baseada no disco-sound, conseguem, no entanto, demonstrar já algum do potencial que ela detinha como cantora. Mesmo assim, o timbre e tonalidades do seu registo vocal conseguiram chamar a atenção de Miguel Esteves Cardoso (poemas) e Ricardo Camacho (composição), que a convidam para fazer as vocalizações de dois temas de sua autoria, o que ela aceita. O resultado dessa colaboração, mais um single, sai para o mercado no ano de 1981, mas já com a chancela da Valentim de Carvalho. Este single, totalmente devedor do trabalho dos seus autores, representa uma quebra com os registos anteriores, abraçando as sonoridades da new wave e da synthpop, tingindas com cores neo-românticas, vai ter um enorme sucesso, tendo sido o 7" que mais vendeu nesse ano. Curiosamente, será o Lado B, "Foram Cardos, Foram Prosas", que terá uma maior exposição radiofónica - tendo mesmo sido objecto de um teledisco -, e que o catapultará para o topo de vendas, pese embora a qualidade do outro tema, "Flor Sonhada", uma das melhores composições que a new wave portuguesa produziu! À excelência dos temas, juntou-se a da colocação da voz, melhor explorada nas suas capacidades, etérea e doce, assertiva e segura, brinca com as palavras e dá-lhes uma alma imortal. As colaborações de Vítor Rua, no baixo e guitarra, Tóli, na bateria (ambos dos GNR e Telectu), e Tó Pinheiro da Silva, também na guitarra, além dos teclados e produção de Ricardo Camacho, serão, também elas, vitais para excelência do produto final. O sucesso do registo leva, então, a que se pense na construção de um longa duração. Camacho começa mesmo a compor novos temas para esse trabalho (sendo um dos quais, segundo rezam as crónicas, "Sete Mares", canção que popularizará, mais tarde, nos Sétima Legião), mas, devido a vários motivos, acaba por sair do projecto. Este será retomado, em 1982, por Vítor Rua (guitarras, teclados, baixo, percussões, harmóniva e vocalizações), Tóli (bateria, percussões, teclados, guitarra e vocalizações) e Rui Reininho (textos, vocalizações). Das sessões de gravação, resultará o álbum "Alibi", que sairá ainda nesse ano. Pese embora a excelência dos músicos envolvidos, do sucesso do single de 1981 e, até, a dos GNR (de onde os músicos eram oriundos), o disco não consegue repetir o fenómeno do seu antecessor. A tal não será alheio o carácter mais experimental e menos imediato dos seus dez temas, onde a cantora explora mais a sua voz e lhe amplia os horizontes. A aproximação, em algumas composições, às sonoridades do Grupo Novo Rock, parece não ter, mesmo assim, captado a atenção do mercado, mas este facto não retira, em absolutamente nada, o valor e qualidade ao LP. Contrariamente a muitos interpretes da música popular, não foi este o factor que a levou a abandonar a carreira neste meio, mas sim o facto de achar que investir nela lhe tiraria credibilidade enquanto jornalista (profissão que desempenhava então). Caindo praticamente no esquecimento, caberá aos Ritual Tejo repôr o seu lugar na memória colectiva, ao versionar, em 1990, "Foram Cardos, Foram Prosas" no seu álbum de estreia. Mesmo assim, será preciso esperar até 2007 para que se verificasse a reedição, em CD, das suas contribuições para o catálogo da Valentim de Carvalho e lhe fosse reconhecido o mérito que teve, ao mesmo tempo que a apresentava a um público novo e desconhecedor desta sua faceta. Coincidência (ou, se calhar, talvez não...), já pelos inícios do Outono de 2006 alvitra-se um seu regresso à canção, num programa da TVI, onde faria dupla com Rui Veloso e cantando originais deste músico. Em 2008, reincide nas aparições televisivas, desta vez reinterpretando as prosas que lhe haviam grangeado a fama, na gala do 15º Aniversário da TVI. Foi estranho ouvi-la, após todo esses anos, em versão empalidecida da sua hora de grandeza mas, apesar disso, conseguiu fazer-nos regressar àquele tempo mágico que a saudade habita... [Paulo Martins]

DISCOGRAFIA

 
CONVERSA FIADA [7"Single, Nova, 1979]

 
SONHO MAU [7"Single, Nova, 1980]

 
FLOR SONHADA [7"Single, EMI-VC, 1981]

 
ALIBI [LP, EMI-VC, 1982]

 
ALIBI [Reissue] [CD, iPLay, 2008]

COMPILAÇÕES

 
BIOGRAFIA DO POP-ROCK [2xCD, Movieplay, 1997]

 
O MELHOR DO ROCK PORTUGUÊS 1980-1984 [CD, EMI-VC, 2003]

 
FEBRE DE SÁBADO DE MANHà[3xCD, EMI, 2006]

 
LUSO POP [CD, iPlay, 2008]