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segunda-feira, 17 de julho de 2017

LULA PENA

Lula Pena (Maria de Lurdes Pena) nasce na lisboeta Praça das Flores a 15 de Maio de 1974. Em casa, o seu irmão tocava guitarra e foi com ele que aprendeu os primeiros acordes. Cantavam juntos, e descobriu a polifonia, enquanto desbravava uma discografia com Simon & Garfunkel, Bob Dylan, folk norte-americana, Beatles e jazz. Pegava nas letras, reordenava-as, dava-lhes novas palavras, métrica e melodia, e foi fazendo as primeiras gravações. O fado surge-lhe mais tarde, já depois dos vinte anos e revela-se uma experiência intensa e visceral, principalmente nas vozes de Amália Rodrigues e de Maria Teresa de Noronha. Entretanto, frequenta a escola de artes visuais António Arroio, em Lisboa, onde estuda design gráfico e comunicação visual. Muda-se para Bruxelas em 1992. Em 1995 vive entre Lisboa, Bruxelas e Barcelona. Aprende francês, castelhano, catalão e flamengo. Quando finalmente tinha conseguido uma galeria para expor em Barcelona é assaltada e fica sem todos os seus trabalhos. Munida da sua guitarra, toca nas ruas. Parte novamente para Bruxelas, onde actua em bares e clubes de jazz. Dessa experiência surge um encontro fortuito e o convite para gravar em 1998 o álbum “[Phados]” pela editora belga Carbon 7. O disco apresenta treze temas gravados exclusivamente com a voz e a guitarra de Lula Pena, percorrendo temas de Caetano Veloso (“Os Argonautas”, “O Quereres” e “Não”), de Chico Buarque (“O Meu Amor”, “Joana Francesa” e “Teresinha”), bem como temas tradicionais portugueses (“Senhora do Almortão” e “As 7 Mulheres do Minho”). Mistura o clássico da morna cabo-verdiana “Sodade” com o fado “Rosinha dos Limões” com toda a naturalidade, terminando com uma interpretação pessoalíssima do tema “Gaivota” imortalizado por Carlos do Carmo e por Amália. Pela voz e guitarra de Lula Pena passam ainda outros temas como “Perdidamente”, poema de Florbela Espanca popularizado pelos Trovante, assim como outros do cânone do fado: “Rua do Capelão”, “Fado Malhoa” e “Fria Claridade”. Lula Pena é extraordinária, capaz de definir uma identidade autoral logo no primeiro disco que gravou, pela capacidade única de fazer seus temas alheios de procedências e estilos muito diversos. Pelo título do álbum somos induzidos a pensar em mais uma cantora do “novo fado”, mas o phado de Lula Pena é coisa outra – o fado está na sua raiz e provoca arrepio, mas incorpora outros mundos e outras músicas, num cosmos muito particular e inquietante. Na sequência da publicação do disco inicia uma série de concertos de apresentação um pouco por todo o mundo (Alemanha, França, Itália, Holanda, Marrocos) criando uma rede de colaborações com músicos que vai conhecendo nas diversas paragens. Lula Pena dedica-se também a outras disciplinas artísticas além da música: instalações, performances, recolhas sonoras, vídeo, bandas sonoras e apontamentos musicais para cinema. Numa das suas performances a seguir ao lançamento de “Phados” podia-se ver num electrocardiograma o ritmo do seu coração enquanto cantava. Corria o ano 2000, quando Rodrigo Leão convida Lula Pena para interpretar o tema “Pásion” no disco “Alma Mater”. Em 2001 actua na Culturgest em Lisboa, acompanhada por Osama Abdulrasol, músico de origem iraquiana que a acompanha com o alaúde, khanou (instrumento com mais de 70 cordas) e bendir (percussão). Regressa em 2002 à Culturgest agora inserida no Festival Europa. Supostamente apresentava o um novo álbum intitulado “Profissão de Fée” (trocadilho com a palavra francesa Fée, que significa fada). O disco nunca viu a luz do dia, mas as composições representavam um corte radical com "Phados", contando com a participação de dois músicos: o holandês Jan de Haas e o iraquiano Osama Abdulrasol. Com um leque alargado de instrumentos como o khanou, os bongos ou do vibrafone, desfocava horizontes do fado em direcção aos ventos quentes do deserto. Em Novembro de 2003 toca ao vivo, em Almada. Em Julho de 2005 realiza um concerto mítico no Festival de Músicas do Mundo de Sines. Volta em 2006 para um concerto na Galeria Zé dos Bois. No final de 2007, dá concertos no Passos Manuel no Porto e no Cabaret Maxime em Lisboa. Em Junho de 2008, actua no Castelo de S. Jorge, onde participam também Richard Galliano, Custódio Castelo e as Adufeiras de Monsanto. Em Agosto actua na Casa da Música e no Museu do Oriente. Ainda em 2008 actua no Festival Barreiro Outras Músicas onde tem o primeiro contacto com o guitarrista Norberto Lobo que também integra o cartaz do Festival. Desse encontro resulta, no início de 2009, um concerto em conjunto na Galeria Zé dos Bois, num espectáculo que viverá muito do improviso. Neste mesmo ano dá um concerto no Museu do Chiado para uma sala repleta de admiradores. Em finais de Novembro de 2009, actua no Lisboa Mistura (Teatro S. Luiz) acompanhada pelos Tigrala, formação onde militam os guitarristas Norberto Lobo e Guilherme Canhão e o multi-instrumentista mexicano Ian Carlo Mendoza. Ao longo de doze anos sucedem-se os rumores sobre a edição do sucessor do disco de estreia, que apenas acontece em 2010 com o lançamento de “Troubadour”, gravado nos estúdios Golden Pony e editado pela Mbari. As justificações para tão longo hiato editorial são de diversa ordem e prendem-se essencialmente com a vontade de alguns com quem colaborou em desvirtuar a sua música, de adorná-la com pormenores e produção, ou então era ela que desistia. Material para novo disco existia desde há muito como denunciavam as músicas apresentadas nos concertos, faltava apenas aquele clique para as coisas acontecerem. O novo disco não é uma mera repescagem desse material - é algo novo, transformado em qualquer coisa de mais poético. Os meios são os mesmos de sempre: a voz e a guitarra acústica ao serviço de um micro-cosmos de referências e afinidades musicais mais alargado que no disco de estreia, partindo do fado e abarcando também o tango, o flamenco, a música brasileira, música tradicional, entre outras, numa mistura orgânica de alusões, tradições e memórias estilhaçadas. "Troubadour" apresenta sete actos em vez de títulos de canções. Para cada um há diversas portas abertas, chaves de interpretação, frases e pequenos apontamentos fragmentados mas reconhecíveis por todos. Estes sete actos, são canções-nómadas que ligam melodias e canções tão distantes, mas tão próximas como “Luna Tucumana" da argentina Atahualpa Yupanqui, o tradicional beirão "Divina Santa Cruz", "Partido Alto" de Chico Buarque ou "A Noite de Meu Bem" de Dolores Duran, num todo coerente e altamente depurado até ao esqueleto essencial. Mais um marco evolutivo num percurso pessoal e sem cedências, de uma das artistas maiores do panorama musical português. Durante o ano de 2010, realiza alguns concertos de apresentação do novo disco em diversas localidades. [Erradiador]

DISCOGRAFIA

 
[PHADOS] [CD, Carbon 7, 1998]

 
TROUBADOUR [CD, Mbari Música, 2010]

 
ARCHIVO PITTORESCO [CD, Crammed Discs, 2017]

COMPILAÇÕES

 
EXPLORATORY MUSIC FROM PORTUGAL 01 [CD, Calouste Gulbenkian, 2001]

 
EXPLORATORY MUSIC FROM PORTUGAL 02 [CD, Calouste Gulbenkian, 2002]

FMM SINES 2005 [CD, Câmara Municipal Sines, 2005]

 
LISBOA@COM.FUSION [CD, EMI, 2006]

FMM SINES 2007 [2xCD, Câmara Municipal Sines, 2007]

 
T(H)REE 02 [CD, Cobra, 2012]

PRESS
Phado Maior, RFM, Blitz nº 865 de 29-05-2001
O Regresso Luminoso da "Fadista Exótica", Tiago Pereira, DN, 14-06-2008
Lula Pena lança finalmente o Segundo álbum, António Pereira, DN, 17-01-2010
O Silêncio não Assusta Lula Pena, Vítor Belanciano, Público, 01-07-2010
Coisas da Memória, Tiago Pereira, Jornal I, 02-07-2010