Em 1998, Johan Aernus trabalhava com alguns dos membros da editora Forgotten Blood num projecto chamado KAR quando se verifica uma ruptura no colectivo, situação essa que irá promover o seu abandono do seio do selo sediado em Penafiel. No seguimento deste evento, Johan criará a sua própria editora a que chamará Reaping Horde. Kar significava "guerra" em celtibérico e, para o músico, o conceito fazia realmente sentido. Já num novo ambiente, Johan recupera o mesmo, justapondo-lhe a designação de Nnos (oriunda da palavra Cernunnos), resultando daí o nome de um novo grupo: Karnnos. Inicialmente constituídos por Johan Aernus (voz, electrónica, acordeão, instrumentos tradicionais, membro dos Wolfskin e fundador da Reaping Horde) e André Guerra (guitarra, também elemento dos Ereshkigal e também fundador da Reaping Horde, na altura envolvido no seu projecto Vento Aziago), ps karnnos tiveram ainda a colaboração assídua de Nuno Cruz (violino, viola, electrónica, aka Nerunbrir, também mentor dos Inverno e Urdraum e futuro membro dos Traume), Belmil (flauta) e João Filipe (percussão, baixo, Sektor 304, Wolfskin). Karnnos significava, em lato senso, "Senhores da Guerra" no idioma celibérico e, musicalmente, sempre pretendeu dar azo a uma música com origem nas tradições e costumes profundos das gentes do Noroeste da Península Ibérica. Uma música que brotasse das raízes da natureza e do saber dos instrumentos tradicionais, uma aproximação grosseira áquilo que se chamou neofolk por essa Europa fora, mas arreigada em costumes portugueses e galegos. Criados numa noite de Verão quente, os karnnos tinham como obsessão criar um tipo de música experimental simples e emotiva. O trabalho do projecto assume-se de cariz espiritual e místico sobre as raízes célticas da cultura portuguesa ancestral. Omnipresente está também o sentido heróico e marcial da Europa antiga sob a forma de uma sonoridade semi dark folk complementada por dark soundscapes em conluio com gutarras acústicas, spoken word e alguns sintetizadores. A estreia discográfica da banda dá-se em 1999, no seio da própria editora e através de um magnífico trabalho, "A Burial In Flames". É incrível como um dos mais magistrais trabalhos da música portuguesa continua ainda desconhecido, confinado a uma edição em cassete com tiragem minimalista de 93 exemplares. Trata-se de uma verdadeira obra prima da nossa música tradicional, aqui incrivelmente integrada em permissas vindas de alguma da mais inventiva música marcial. Como habitualmente, outros viram neste projecto as potencialidades que os portugueses não detectaram e, já em 2000, a editora francesa Cynfeirdd editará o CD "Deatharch Crann" a que se seguirão, no ano imediatamente seguinte, o single "Bearer of Order" (lançado pela alemã Hau Ruck de Albin Julius dos Der Blutharschem) e dois anos depois, o longa duração "Dun Scaith" (novamente pela Cynfeirdd). Seguindo um trilho muito distinto do dos Wolfskin, Karnnos caminharam no sentido da melodia na composição. Menos atmosférica, a música do grupo, não deixa, contudo, de apresentar pontos de contacto longínquos. De uma forma tosca, poder-se-á dizer que onde Wolfskin é dark ambient, Karnnos é neofolk, mas ambos os projectos provêm do amor da natureza e dos sentido que ela garante à nossa identidade. Johan continua a trilhar a sua busca rumo ao correcto entendimento do misticismo ateu celtibérico numa jornada espiritual que pode bem ser integrada num movimento mais lato ocorrido na Europa durante as décadas de 90 e 2000. Em 2005 dá-se a edição do derradeiro trabalho discográfico do grupo, de seu título "Undercurrents And Lost Horizons", novamente comercializado pela Cynfeirdd. Em 2007, Johan anuncia formalmente o fim das actividades dos Wolfskin e a passagem dos Karnnos para um limbo existencial não tão definitivo mas que a ausência de novos trabalhos desde 2005 não augura grande futuro.
DISCOGRAFIA
A BURIAL IN FLAMES [CDR, Reaping Horde, 1999]
DEATHARCH CRANN [CD, Cynfeirdd, 2001]
BEARER OF ORDER [7"EP, Hau Ruck, 2002]
DAN SCAITH [CD, Cynfeirdd, 2002]
UNDERCURRENTS AND LOST HORIZONS [CD, Cynfeirdd, 2005]
COMPILAÇÕES
THE NEMETH [CDR, Reaping Horde, 1999]
SONGS FOR LANDERIC [2xCD, Cynfeirdd, 2002]
A FINAL TESTIMONY [2xCD, Seküencias De Culto, 2004]
SONGS FOR ALIÉNOR [2xCD, Cynfeirdd, 2005]
EUROPA AETERNA [LP, Autre Que, 2006]
Este blogue é uma cópia (feita em boa hora) do extinto Under Review https://underrrreview.blogspot.com/
sábado, 15 de julho de 2017
Arquivos
-
▼
2017
(1086)
-
▼
julho 2017
(721)
- HOJE
- GAITEIROS DE LISBOA
- CARLOS BICA
- DEUS PÃ
- MASQUE OF INNOCENCE
- FISH & SHEEP
- THE STARVAN
- KARUNIIRU
- AZEMBLA'S QUARTET
- EMÍDIO BUCHINHO
- ADORNO
- JORGE PALMA
- THE CAPRICIOUS
- SUBMARINE
- MTM
- BRAINWASHED BY AMALIA
- UMPLETRUE
- PLAZA
- CHUCHURUMEL
- BARCOS
- DEAD DREAM FACTORY
- MARÇAL DOS CAMPOS
- PAPERCUTZ
- PÓLO NORTE
- 1-UIK PROJECT
- DOUBLE MP
- MIGUEL ÂNGELO
- FREQUENCY
- BARBARELLA / SANTALUZIA
- WHITE HAUS
- ARKHAM HI-FI
- NEW CONNECTION
- DAZKARIEH
- NORBERTO LOBO
- DEAR TELEPHONE
- À SOMBRA DE DEUS
- FLUID
- TIAGO GUILLUL
- MERCILESS DEATH
- PUNY
- CAVALHEIRO
- OS GULLY
- PRIMITIVE REASON
- NIGGA POISON
- OXYGEN
- MY PORNO STAR
- PURO EXEMPLO
- CAPELA DAS ALMAS
- PAULO ALEXANDRE E OS TELSTARS
- AZIA
- BASTARDOS DO CARDEAL
- MINDLOCK
- CMYK
- SUGAR BABY CONDOMS / SUGAR
- CLARK
- SMACH
- BLACKFEATHER
- LES FANATICS
- LES FLEURS DU MAL
- TIAGO BETTENCOURT & MANTHA
- 49 SPECIAL
- 3ANGLE
- MAU MARIA
- PLEXUS
- TEQUILLA MAL
- MOURAH
- PHOENIX
- PARKINSON
- CASINO
- SARNA
- DOIS SACOS E MEIO
- MIDNIGHT PRIEST
- VICIUS CORRUPTUS / HORNET
- SINDICATO
- JARDINS DE PEDRA
- CALHAU
- STRANGE AIRPLANE
- YOU SHOULD GO AHEAD
- DOWNLOAD
- ZECA SEMPRE
- EXPEÃO
- JOÃO CORAÇÃO
- SIGLA
- MINTA
- TOMCAT
- DEAD SEA ISRAEL
- FRANCISCO RIBEIRO
- THIS ISN'T LUXURY
- SIRIUS
- BALBÚRDIA
- FADOMORSE
- BUTEO BUTEO ROTHSCHILDI
- DANCE DAMAGE
- PAINSTRUCK
- AENIMA
- PEDRO E OS APÓSTOLOS
- VÓMITO
- FEROMONA
- CONJUNTO ZOO
- ASTRONAUTA DESAPARECIDO
- ► junho 2017 (364)
-
▼
julho 2017
(721)