Páginas

sábado, 15 de julho de 2017

FORGOTTEN BLOOD

A Forgotten Blood foi uma editora penafidelense criada durante os auspicios do Samhein de 1993. Tal como a evocadora cerimónia na qual se propiciaram os rituais da sua fundação, a evocação de tão consagrada data pretendia significar uma nova época que, por entre o árduo caminhar pela escuridão, levaria ao fruir de um novo ciclo de vida e criatividade, ao mesmo tempo que entreabria as portas para as possibilidades de outras percepções e realidades, há muito esquecidas. Fundada por Bruno Sousa (B. Ardo, ex-Fé de Sábio), Corinna Ardo (Ku Ku) e Rui Coutinho, assentou os seus esteios basilares no recuperar das tradições da Callaecia (Norte de Portugal e Galiza actuais), na ressurreição dos cultos e deuses de antanho e na promoção da Civilização Catreja e Indo-Europeia, sendo uma ideia que já vinha a maturar desde 1988, na senda de um programa de rádio dedicado ao tipo de sonoridades que irão adoptar. Consequentemente, as temáticas, simbologias, linguagens e ambiencias das suas edições irão refelectir, e insidir sobre, toda uma multitude de paradigmas intrinsecamente relacionados com essa filosofia própria, sincretisando músicas tradicionais com experiências industriais e ambiências ritualísticas com dialéticas dark folk, recorrendo, sempre que possível, a instrumentos tradicionais e de cariz popular. Para que tudo isto fosse possível, a amizade e colaboração entre os diferentes elementos que vieram a fazer parte do seu catálogo foi ponto assente, criando um colectivo uno e coeso. Essa singularidade, reflectia-se, também, nas próprias edições, sempre em edições limitadas e com grafismos e embalagens artesanais. Tendo prolongado a sua existência até 1998, contará com um número restricto de edições e um conjunto de projectos limitado, não se cingindo, contudo e apenas, a lançamentos musicais. O primeiro sacrifício sairá, em 1994, pelas mãos de Zwickau, projecto a solo de B. Ardo (com auxílio de Ku Ku), sob a forma da cassette “Vincit Omni Veritas”, à qual se seguirá “The Serpent’s Law” (1995, mas pela italiana Psychotic Release), revelando uma evolução sonora na direcção de uma sonoridade mais orgânica e natural a cada registo. Houve ainda contactos para a edição de um vinil do projecto mas que, infelizmente, ficou-se apenas pelas intenções... De referir ainda a inclusão de Zwickau na compilação “Lunar Blood Rituals”, ainda em 1998. Uma segunda edição, “The Death of the Horseman”, sairá, no ano seguinte, via In Articulo Mortis, alter ego de Lino Villapouca (ex-Fé de Sábio). Aquando do fim da editora, o seu mentor encontrava-se a registar um CD, “Fire and Ashes”, que, contudo, também não verá a luz do dia... O terceiro registo caberá aos Wolfskin, projecto de Johan Madju/Aernus que, depois, estará ligado à Reaping Host/Reaping Horde. Contando com a colaboração de B. Ardo, “The Hidden Fortress” é editado, também, no decurso de 1995. 1996 vê a edição de duas cassettes. A primeira, uma compilação que inclui os vários grupos ligados à editora, “Solis Rota”, onde se encontram composições inéditas de Zwickau, Wolfskin, Warriors of Nature, Listen To Reapers and Forgers, In Articulo Mortis, Soluctu Mors, Draukrubna e Silence. A segunda, o registo “The Roots of Blood”, dos Warriors of Nature, colectivo a cargo de B. Ardo e Johan Madju. Esta, saiu já pelo selo Forgotten Lair (uma subdivisão da casa-mãe), etiqueta essa que lançará, também, “Serpent Wars of Callaecia”, bem como “Death’s Triumphant Dignity” (em 1998) dos Zwickau. O último fulgor de vida viria sob a forma do registo “Alborada do Douro – Cantares da Terra Castreja”, pelos Sangre Cavallum, colectivo nascido das cinzas dos Warriors of Nature e que reunia, nessa gravação, B. Ardo, Ku Ku, Coutinho e Paulo Martins. Lançado em 1998, o título coincidiu com as primeiras actuações dos Blood Axis por Portugal. Antes ainda, lançariam, a título semi-oficial, e antes da colaboração com Paulo Martins, o registo “Nação Castrexa”. Quanto a outras edições paralelas à editora, os Silence (B. Ardo e Ku Ku) contribuiram para a compilação “Cogito Mori” (da portuguesa Putrefactio) e numa compilação da Ultra!, tendo procedido, também, à gravação de uma cassette que, contudo, nunca teve edição oficial. Outro projecto que participou na compilação da Putrefactio, foi Solucto Mors (de Rui Coutinho) que, também, tinha prevista uma edição que nunca chegou a sair. Tal repete-se no caso de Draukrubna (Ku Ku). De citar, ainda, os Kar, projecto paralelo aos Warriors of Nature e que lançaram a cassette “Words From Slashed Throats”. Fora do âmbito musical, de citar ainda a publicação do boletím etnográfico Callaecia, do qual só saiu um número, e o livro de Paulo Vilela “Acto Quebrado”, pela subsidiária Scripti Ad Abcessus Temporis. De referir ainda, por um lado, a participação de um novo projecto de B. Ardo, os Bigorna, que contribuiram com uma faixa, em 2004, para a compilação da revista Tyr: Myth—Culture—Tradition, e a criação de uma nova editora, a Folcastro, que lançou, em 2007, a compilação dos Sangre Cavallum “Troadouro: Retrospectiva 1997-2007”. As edições da Forgotten Blood são muito procuradas, mas não estão previstas reedições em qualquer formato, pelo menos para breve. [Paulo Martins]

DISCOGRAFIA


SANGRE CAVALLUM: NAÇÃO CASTREXA [Tape, 1997]

 
FOG001VOV60 | ZWICKAU: VINCIT OMNIA VERITAS [Tape, 1994]

FAY002DH63 | IN ARTICULO MORTIS: DEATH OF THE HORSEMAN [Tape, 1995]

  
FENIVHFLXXVII | WOLFSKIN: THE HIDDEN FORTRESS [Tape, 1995]

  
FOGVLI | WARRIORS OF NATURE: THE ROOTS OF BLOOD [Tape, 1996]

  
FOI06SR88 | VÁRIOS: SOLIS ROTA [Tape, 1996]

   
FOL007/50 | SANGRE CAVALLUM: ALBORADA DO DOURO [Tape, 1998]