Em 1983, formavam-se em Lisboa os Kan Kan Klan. Com um som que mesclava a pop new wave com o ska, ao qual aliavam uma secção de metais, eram constituídos por Nuno Figueiral (guitarra), Diamantino “Diamante” Lage (baixo), João Ferreira Vitorino (bateria), João Marques (trompete), João Calado (voz), Filipe Salgueiro (saxofone e teclados) e Luciano Salgueiro (trombone). Tendo gravado uma demo, da qual se destaca “Sonhos Perdidos”, vão inscrever-se e participar, em 1984, no Primeiro Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous. Embora não tenham chegado às finais, vão conseguir, ainda durante esse ano, assinar um contrato com a Metro-Som, do qual resultará um 7"Single. Tendo, ainda antes da edição, mudado de nome para Odisseia Latina (um dos temas dos Kan Kan Klan) e acolhido um novo elemento, Renato Silva (piano eléctrico e caixa chinesa), editam “Férias Tropicais/Sonhos Perdidos” ainda antes do final do ano. Apesar disso, e no decorrer do ano seguinte, o grupo dissolve-se, ao mesmo tempo que três dos seus componentes, Diamante, Vitorino e Marques (agora nos teclados), decidem fundar um novo projecto, para o qual recrutaram, também, Natália (Tuxa) Casanova (voz) e Pedro Solaris (guitarra), amigos comuns que costumavam frequentar os ensaios dos Odisseia Latina com regularidade. Optando pela designação de Diva e os Gangsters (do filme homónimo de Beneix), gravam uma demo, tendo como objectivo imediato a participação no Segundo Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous, acabando, contudo, por não concorrer. Em vez disso, decidem-se por mostrar a maquete à Metro-Som, que se presta a gravar-lhes um single, propondo, ao mesmo tempo, que o grupo se fique, apenas, pela designação de Diva. Sob a batuta de Manuel Cardoso (Frodo/Tantra), que também contribuirá com uma segunda guitarra, vão, então, gravar o seu disco de estreia, composto pelos temas “Chuva” e “Saudade e Raiva”. Possuidor de uma sonoridade pós-punk de tonalidades “dark” (por vezes lembrando uns Breathless), o registo vai ter a colaboração de Teresa Martinho (letra de “Saudade e Raiva”) e do já citado João Calado (vocalizações em “Saudade e Raiva”). Entretanto, dão o seu primeiro concerto ao vivo. Povoada de dificuldades e peripécias, entre as quais a errónea indicação dos temas (aparecendo como “Raiva” e “Saudade”) e a deficiente prensagem de um terço dos exemplares (foram feitas 1500 cópias), o disco acaba por passar desapercebido do grande público, devido à má promoção. Mesmo assim, consegue apresentá-los como proposta de qualidade e um valor sólido a seguir com atenção. Durante a Primavera de 1986 falou-se da edição de um Mini-LP mas, infelizmente, tal não viria a suceder. Aliás, a tal não deve ser alheia a saida de Diamante e de Marques, dando-se, ao mesmo tempo, o corte com o selo que os tinha acolhido até aí. O trio restante decide, mesmo assim, continuar o projecto, chamando Óscar Coutinho (baixo) e Pedro Domingos (teclados) para ocupar os lugares dos desistentes, ao mesmo tempo que um novo elemento, Tó Freire (guitarra), entra para o colectivo. Durante os anos seguintes, essa formação irá dar alguns concertos e trabalhar novos temas. Corriam mesmo boatos de que a 4AD teria mostrado interesse em os chamar para o seu prestigiado catálogo... Chega-se, então, ao ano de 1988. Durante os concertos realizados no âmbito das "Manobras de Maio", Ricardo Camacho (Sétima Legião, Fundação Atlântica) aproxima-se do grupo, revelando o seu interesse em trabalhar com eles. Daí resultará, já no Outono desse ano, um contrato com a EMI-VC, ao qual também não é alheia a apresentação que o grupo fez aos A&R da editora, incluíndo, para além das demos, um portfólio com fotografias do grupo e um vídeo, ambos realizados por amigos da banda. Contudo, só em finais de 1989 é que irão iniciar as gravações do seu primeiro longa duração, “Ecos de Outono”. Tendo como produtores Camacho (que também se irá ocupar dos teclados e programações) e Francis (ex-Xutos & Pontapés e UHF, que também participará com programações e guitarra clássica), o disco verá a luz do dia na Primavera de 1990. Anunciado pelo single “Amor Errante”, o disco revelar-se-á um sucesso. Contando com as colaborações de Paulo Abelho (dos Sétima Legião, nos samplers), de Miguel Teixeira (viola de arco), Nuno Sampaio (que comporá a sexta faixa do disco, “Tempestade e Paixão”) e Francisco Menezes (letrista dos Sétima Legião, que comporá a letra de “Amor Errante”), além das já mencionadas de Ricardo e Francis, o registo apresenta uma sonoridade bastante diferente da do single de estreia. Etéreo e planante, mas com raízes pop bem vincadas, o disco apresenta atmosferas menos cerradas que as do anterior trabalho, muito graças ao trabalho de guitarras, delicadas, tocantes e cristalinas, ao mesmo tempo que a voz de Natália se tornou mais vaporosa e frágil, herdeira de um encanto sirénico e possuidora de uma doçura hipnotizante. Evocante de sonoridades da 4AD e dos Sétima Legião, irá ainda ver retirado dele, como single promocional, “Baila Papoila/Romaria”. Os anos seguintes são passados a compor e a actuar. É já em 1993 que iniciam a gravação de um segundo álbum, mas, descontentes com o produto final, decidem abortar o projecto. Entretanto, Domingos saí do grupo, entrando, dando-se em simultâneo a admissão de Carlos Ayres que assume o violino. A estreia deste novo músico irá verificar-se ainda durante esse ano, aquando da gravação de “Canção de Embalar”, a contribuição dos Diva para a compilação “Filhos da Madrugada”, o tributo a José Afonso. Decorriam os inícios de 1994 quando, finalmente, regressam a estúdio, desta feita para registar o já tão adiado e aguardado sucessor de “Ecos de Outono”. Coincidindo com o período de gravidez de Natália, as gravações vão-se prolongar por vários meses, com o grupo a gravar as partes instrumentais das canções, enquanto Casanova não pode dedicar-se ao projecto. Por tal, só em 1995 é que o novo trabalho é editado. “Deserto Azul”, de seu nome, terá no single “Mariana” o seu tema mais forte, enquanto “Flor do Beijo” e “Santa Maria” constituem as suas mais belas e delicadas pétalas. De novo com Camacho na produção, auxiliado por Amândio Bastos, o disco irá seguir a senda do sucesso que, já como o primeiro, haviam alcançado. O registo, contudo, denota notórias diferenças em relação ao seu antecessor, mormente ao nível das guitarras - onde se denota um mais intenso recurso à distorção -, e das baterias - utilizando uma maior variedade de efeitos electrónicos -, tornando a sonoridade menos diáfana, sem lhe retirar, porém, a magia das suas fragrâncias e charme. Aliás, no que no anterior álbum era beleza inalcansável, neste é charme e sedução... De referir ainda que, neste disco, há a colaboração de Francisco Menezes (Madredeus) e de Sérgio Godinho nas letras, bem como a participação de Nuno Guerreiro (Ala dos Namorados) na voz, presença essa que não é de estranhar, uma vez que Natália havia colaborado com ele quer num projecto com Carlos Paredes, nos idos de 1992, quer no disco de estreia da sua banda. Iniciando as gravações de um novo trabalho em 1996, desvinculam-se, entretanto, da EMI-VC, assinando, pouco tempo depois, com a Sony. Produzido, desta feita, por Franck Darcel (da seminal banda new wave francesa Marquis de Sade), “O Verbo... (Criou a Mulher)” vai, mais uma vez, destinguir-se dos trabalhos anteriores, sendo o disco mais rock do grupo (se é que tal termo se pode aplicar). Pegando nas pistas já ensaiadas em “Deserto Azul”, as guitarras reforçam-se na distorção, embora controlada, enquanto os arranjos de teclados se mantêm discretos, sendo as ambiências polvilhadas por uma doce e suave melancolia. Sendo quase todos os textos da autoria de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), que também canta no tema título, o disco tem, também, a colaboração de Joaquim d’Azurém na guitarra portuguesa e como co-autor do tema “Açores” (cuja letra é de Solaris). O disco sairá perante uma imerecida indiferença e nem o lançamento do tema título em single irá ajudar a modificar a situação. Seguem-se os concertos promocionais (no primeiro dos quais tanto Canibal como Azurém irão participar), enquanto em 1997 é editado o CD Single, com seis remisturas, do tema “Eu Ando às Voltas”. Na segunda metade de 1998, iniciam as gravações do quarto LP. Contudo, desavenças com a casa editorial levarão a que, apesar de já se estar na fase de pré-produção, o disco, previsto para sair na Primavera do ano seguinte, nunca seja editado. Em 2000, os Diva dão por findas as suas actividades. No entanto, 2008 tráz novos sinais de vida, com o grupo a voltar aos ensaios e composições, embora sem pressões editoriais ou de datas ao vivo, tendo, em 2009, entrado em estúdio, com Amândio Bastos como produtor, estando, neste preciso momento, a gravar um novo disco, sendo as novas composições descritas como estando mais próximas da linha do auspicioso “Ecos de Outono”. Resta, então, aguardar para ver... [Paulo Martins]
DISCOGRAFIA
FÉRIAS TROPICAIS [7"Single, Metro-Som, 1984]
SAUDADE [7"Single, Metro-Som, 1985]
ECOS DE OUTONO [LP, EMI-VC, 1990]
ECOS DE OUTONO [CD, EMI-VC, 1990]
AMOR ERRANTE [7"Single, EMI-VC, 1990]
BAILA PAPOILA [7"Single, EMI-VC, 1990]
DESERTO AZUL [CD, EMI-VC, 1995]
O VERBO [CD, Sony, 1996]
INSÓNIAS [CD Single, Sony, 1996]
EU ANDO ÀS VOLTAS [CD Single, Sony, 1997]
EU ANDO ÀS VOLTAS (REMIXES) [CD Single, Sony, 1997]
EU ANDO ÀS VOLTAS (TV CABO PROMO) [CD Single, Sony, 1997]
EU ANDO ÀS VOLTAS (DOCTOR J REMIXES) [12"Maxi, Sony, 1997]
COMPILAÇÕES
OS FILHOS DA MADRUGADA CANTAM JOSÉ AFONSO [2xLP, BMG, 1994]
MAIS VALEM 36 MÚSICAS NO SAPATINHO [2xCD, União Lisboa, 1996]
MILLENNIUM [CD, EMI-VC, 1996]
POP ROCK EM PORTUGUÊS [2xCD, Megadiscos, 1997]
PROMÚSICA 06 [CD, Promúsica, 1997]
NOITES LONGAS: A UNIÃO FAZ A DANÇA [CD, Sony, 1998]
O MELHOR DO POP PORTUGUÊS 1985-1990 [CD, EMI, 2005]
PRESS
Querer Existir, Célia Pedroso, Blitz nº 65 de 28-01-1986
A Bela e os Monstros, Rui Monteiro, Blitz nº 137 de 16-06-1987
Divagações, António Pires, Blitz nº 286 de 24-04-1990 [CAPA]
A Diva e o Relógio de Areia, Cristina Duarte, Blitz nº 497 de 10-05-1994
E a Mão criou o Verbo, Rui Catalão, Pop Rock/Público nº 2439 de 13-11-1996
Remar, Remar, Miguel Santos, Blitz nº 317 de 27-11-1990
Renascimento, António Pires, Blitz nº 539 de 28-02-1995
Um Estranho Caso, Miguel Francisco Cadete, Blitz nº 628 de 12-11-1996 [CAPA]
O Fim Anunciado, Blitz nº 832 de 10-10-2000
Este blogue é uma cópia (feita em boa hora) do extinto Under Review https://underrrreview.blogspot.com/
terça-feira, 11 de julho de 2017
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