Páginas

segunda-feira, 26 de junho de 2017

RESISTÊNCIA

Em 1990, no concerto de passagem do ano, jun­tam-se no Terreiro do Paço os All Stars, um ensemble onde estão Tim, Miguel Ângelo, Pedro Ayres e ainda Fernando Cunha, guitarrista dos Delfins. Os mesmos quatro músicos surgem reu­nidos para um concerto acústico no Rossio, que constitui efectivamente a "proto-Resistência". No ano seguinte, o primeiro álbum da Resistência está na rua, com o selo BMG. Esta editora e a EMI dividem as edições do grupo, estabelecendo um contrato comum para a edição de quatro álbuns. Chama-se "Palavras ao Vento" e apresenta uma formação composta por Pedro, Ayres, Tim, Miguel Ângelo, Olavo Bilac e Fernando Cunha, um núcleo duro ao qual se junta uma mão-cheia de músicos de primeira água: Alexandre Frazão e José Salgueiro (bateria e percussões), Fredo Mergner e Rui Luís Pereira (Dudas), nas guitarras, Fernando Júdice no baixo. Músicos com passagem por inúmeros projectos na área do jazz, como o Ficções, de Dudas e Frazão, ao ressuscitar da secção rítmica dos Trovante, cujos membros, Júdice e Salgueiro, também já tinham andado por outras paragens, desde os projectos de José Peixoto ao grupo de Maria João, no caso de José Salgueiro. As vozes principais dos Xutos e dos Delfins, juntava-se o então desconhecido Ola­vo Bilac (os Santos & Pecadores já existiam mas ainda não tinham gravado). Com Cunha, Pedro Ayres e Tim, eram seis guitarras acústi­cas a apoiar três vozes principais e a trabalhar com uma secção rítmica capaz de funcionar neste registo. «Nasce Selvagem», dos Delfins ou «Não Sou o Único», dos Xutos, renascem na Resistência. O alinhamento de Palavras ao Vento, integrava ainda «Marcha dos Desalinha­dos», «Nunca Mais», «Aquele Inverno», «Liberdade», «No Meu Quarto» e «Circo de Feras». O primeiro concerto tem lu­gar no São Luís, em Lisboa, ainda antes do lan­çamento do álbum. Em 1992, a digressão de Palavras ao Vento, que será duplo Disco de Platina, comprova a qualida­de do projecto. A Resistência introduz de facto uma nova atitude e marca, efectivamente, os pri­meiros anos da década. Canções acústicas e ime­diatas, o sentimento de grupo e de comunidade representado pela reunião de nomes diferentes, a magia directa da mais elementar das fórmulas: vozes e guitarras. Pedro Ayres (e, neste caso, Fernando Cunha, o outro criador do projecto, que envolvia ainda o produtor Jonathan Miller) acertara na mouche, pela terceira vez, após os Heróis e os Madredeus. Rui Monteiro, director do Blitz, define a Resistência como a união nacional da canção portuguesa. Ao todo serão 30 concertos até ao final do Verão. Palavras ao Vento não ficou em sequência. Ao mapa de ma­nual escolar envelhecido do primeiro álbum, su­cedia a pega de touros de Mano a Mano, (EMI). Atitude portuguesa, pois claro. A formação man­tém-se mas o repertório abre-se a novos sons, como o dos Sitiados, e a velhas cantigas, como «Que Amor Não Me Engana» e «Traz Outro Amigo Também";, de José Afonso. «Amanhã é Sempre Longe Demais» ficará porventura o tema mais emblemático do segundo álbum, onde se ouvem ainda «Um Lugar ao Sol», «Esta Cidade», «Fim», «A Noite», «Prisão em Si», «Perigo» e «Timor». No fim do ano, o grupo toca no Porto e em Lisboa. Os concertos da capital, realizados no Armazém 22, serão gravados para um disco ao vivo a sair no ano seguinte. Em Abril de 1993, a digressão de Mano a Ma­no leva a Resistência a 20 cidades do País. O grupo participa na primeira edição do Portugal ao Vivo, em Alvalade. No fim do ano sai o terceiro álbum da Resistência, um duplo live intitulado Ao Vivo no Armazém 22, editado pela BMG, ao abrigo do acordo de alternância entre esta editora e a EMI. O álbum inclui bastante material inédito, como uma introdução escrita por Pedro Ayres Magalhães, o tema «Finisterra», de Rui Luís Pereira, dois temas dos Heróis do Mar e um dos Delfins. Após terem integrado José Afonso no seu repertório, a Resistência é um dos grupos convidados, em 1994, para o projecto Filhos da Madrugada, para o qual escolhem o tema «Chamaram-me Cigano». Em finais de Junho, voltam a Alvalade para o espectáculo de «Filhos da Madrugada». É um ponto semifinal na actividade da Resistência, cujos músicos, em particular Pedro Ayres, vão voltar a estar empenhados nos seus respectivos projectos. [Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa]

DISCOGRAFIA

 
PALAVRAS AO VENTO [LP, BMG, 1991]

 
NASCE SELVAGEM [12"Maxi, BMG, 1991]

 
MANO A MANO [LP, EMI-VC, 1992]

 
AO VIVO NO ARMAZÉM 22 [2xCD, BMG, 1993]

 
UM LUGAR AO SOL [CD Single, EMI-VC, 1993]

 
AS VOZES DE UMA GERAÇÃO [2xCD, EMI, 2011]

 
BANDAS MÍTICAS [CD, Lenoir, 2011]

 
HORIZONTE [CD, Warner Music, 2014]

COMPILAÇÕES

 
PORTUGAL AO VIVO 93 [CD, SEJ, 1993]

 
VARIAÇÕES: AS CANÇÕES DE ANTÓNIO [CD, EMI-VC, 1993]

 
OS FILHOS DA MADRUGADA CANTAM JOSÉ AFONSO [2xLP, BMG, 1994]

 
UMA HISTÓRIA DE AMOR [2xCD, BMG, 1995]

 
POP ROCK EM PORTUGUÊS [2xCD, Megadiscos, 1997]

 
SOU METADE SEM TI [CD, Road Records, 2002]

 
PORTUGAL AO VIVO [CD, EMI-VC, 2002]

PRESS
Tácticas de Guerrilha Cultural, Rui Monteiro, Blitz nº 369 de 26-11-1991 [CAPA]
Vozes na Luta, António Pires, Blitz nº 370 de 03-12-1991
Os Grandes Trabalhos da Resistência, Blitz nº 407 de 18-08-1992
Resistir, Resistir Sempre, António Pires, Blitz nº 408 de 25-08-1992
Um Nascimento Selvagem, Blitz nº 415 de 13-10-1992
Experimental, Mutante & Portuguesa, Rui Monteiro, Blitz 421, 24-11-1992 [CAPA]
Veni, Vidi, Vici, Rui Monteiro, Blitz nº 422 de 01-12-1992
Fim do Ciclo, António Pires, Blitz nº 476 de 14-12-1993