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domingo, 25 de junho de 2017

LOVE AND THE WILL

Erigidos, inicialmente, como projecto de um só elemento, os Love And The Will vão surgir, em Ermesinde e em meados de 1992, pelas mãos de Pedro Ferreira, músico que se ocupava de todos os instrumentos e vocalizações. Surgindo como veículo de expressão do seu mentor, e após algumas experiências como músico noutros projectos, vai conjugar no nome dois conceitos importantes e motivadores da existência e realizações humanas: o amor e a vontade, conjugados de forma fonéticamente apelativa. O primeiro tema composto, “Sad Shooter” - incluído na primeira demo, homónima, de seis temas -, aponta já os caminhos que o projecto irá seguir: um rock negro, de texturas densas que, bebendo influências no pós-punk e gótico, conseguirá trilhar um caminho original e de personalidade vincada. Além disso, a pose vocal, meio sussurada, meio cantada em tons frágeis, confere uma auréola muito própria ao conjunto das composições. Se, por um lado, referências como Fields of the Nephilim, The Sisters of Mercy, The Mission, Christian Death, Casual Sanity ou Bauhaus estão presentes nas composições, por outro, estas afastam-se delas e desbravam um território novo, incutindo uma originalidade e sonoridade características. Aliás, este primeiro registo, editado em 1993, vale-lhes críticas elogiosas. Após a sua edição, Pedro procura encontrar elementos para formar uma banda propriamente dita que pudesse actuar ao vivo. Irá recrutar, para a função de baixista, Joaquim Paiva e, depois, Pedro Cravinho. O primeiro concerto tem lugar em Maio desse ano, no bar "O Meu Mercedes É Maior Que O Teu" localizado no Porto. A banda irá também concorrer ao 1º Concurso de Musica Moderna de Castelo de Paiva onde consegue obter a segunda posição, e ao Concurso de Música da Discoteca Ritual, em S. Paio de Oleiros, onde fica em terceiro lugar. Paralelamente, o tema “Ghazeeyeh” é incluido na compilação do fanzine Peresgotika “T-Secret Sessions, Vol. 6”. Durante 1994, o grupo irá gravar uma segunda demo intitulada simplesmente “Love And The Will II”. Refinando o som já apresentado e, apesar de ter um tema dedicado aos Bauhaus (“1919”), a banda apresenta uma sonoridade mais desprendida das suas referências (mas onde o tema “This Aureole In Me” lembra, curiosamente o “I Wanna Be Adored” dos The Stone Roses), ao mesmo tempo que evidencia as capacidades vocais de Pedro Ferreira e impõe a sua forma personalizada de cantar. A banda vai conseguindo actuar ao vivo apesar das recorrentes alterações na sua formação a prejudicarem. Durante 1995 a formação consegue manter uma certa estabilidade, contando nos seus quadros, para além do seu líder, com Alexandre Matos (guitarra), Helder Polónio (ex-Hospital Psiquiátrico, bateria) e Arménio Teixeira (baixo). Esta formação será a responsável pelo registo de uma terceira maquete, a que deram o nome de “The Will”, e onde constam regravações de dois temas antigos do grupo: “Sad Shooter” (da primeira cassete) e “This Aureole In Me” (da segunda). O objectivo deste registo era o de servir como cartão de apresentação para as editoras, de forma a possibilitar que o projecto pudesse gravar o mais que merecido registo em suporte mais nobre. Apesar desse desejo se gorar, o trabalho permitir-lhes-á actuar nas Noites Ritual e participar na compilação “Ritual Rock I” (com o tema “Sad Shooter”). Mais para os finais desse ano, a formação desfaz-se, voltando Pedro Ferreira a assegurar, sózinho, o projecto. Tal factor não o desmotiva, continuando a compor, embora os temas desse período (entre 1995 e 1996) não seja reunido em nenhuma demo oficial. Esses temas têm a particularidade de já demonstrarem um conjunto de pistas quanto ao novo rumo que os LATW iriam tomar: mais ambientais, e com recurso a alguma electrónica ambient, e recorrendo a vocalizações femininas (vide “Sorrow”), a cargo de Cláudia Leite. É por essa altura que os Love And The Will se ligam à Independent Records, entrando em estúdio, já em finais de 1996, para registar o aguardado album de estreia, “Felt” de seu nome. Em simultâneo à gravação deste trabalho (contando com a colaboração da vocalista Lia, em “Sorrow - Reprise”), Pedro Ferreira reúne dois músicos para o acompanhar ao vivo: José Augusto (baixo) e Pedro Rodrigues (guitarra). 1997 passa-se um pouco pacatamente, por entre a realização de alguns concertos e o trabalho de estúdio. Porém, antes do ano terminar, dá-se o rompimento com a Independent Records, estando o trabalho ainda a meio. Desta forma “Felt” acabará por ser publicado apenas em formato cassete e, mais uma vez, em regime de edição de autor. O registo apresenta-se mais ambiental que os anteriores, mais atmosférico, incluíndo maior presença de guitarras acústicas. Melancólico e de delicadas texturas, prova a coerência e maturidade do projecto na assertividade dos arranjos e refinamento composicional. Pese embora todos os factores que já impunham o interesse de uma editora no seu trabalho, os Love And The Will vêem-se na situação de, mais uma vez, em 1998, terem de recorrer à auto-edição. É nesse contexto que surge o CD-Single “Everyday (You Shelter Me)/Sorrow”. Gravado com os músicos com quem vinha tocando ao vivo, para além de ter contado com a preciosa colaboração de Claudine Sarbib nas vocalizações, o disco representa mais um passo em frente no desenvolvimento da fórmula sonora muito própria ao grupo. Contudo, constituirá o último fôlego editorial do projecto, que continuará a existir e a actuar até 2001, já com a formação remodelada. Para além do seu mentor, farão parte da banda Pedro Rodrigues, Claudine Sarbib, Luís A. (baixo) e um baterista conhecido por Metamorpheu. Desde ess altura deixaram de se saber quaisquer novidades de Pedro Ferreira, o que indicia que o grupo deu por finada a sua existência. [Paulo Martins]

DISCOGRAFIA

  
LOVE AND THE WILL 01 [Tape, Edição de Autor, 1993]
LOVE AND THE WILL 02 [Tape, Edição de Autor, 1994]
THE WILL [Tape, Edição de Autor, 1995]


FELT [Tape, Edição de Autor, 1997]

 
EVERYDAY (YOU SHELTER ME) [CD Single, Edição de Autor, 1998]

COMPILAÇÕES


T SECRET SESSIONS 06 [Tape, Peresgótika Fanzine, 1993]

 
RITUAL ROCK 01 [CD, Numérica, 1995]

 
PROMÚSICA 29 [CD, Promúsica, 1999]

PRESS
Desejos Negros, Ricardo Braga, Ritual nº8 de 1995
Destaques, Promúsica 29 de 06-1999