Bem feliz da vida estaria por certo Victor Torpedo que, à partida para este novo desafio, contava já no seu curriculum com préstimos devotados a bandas como os Tédio Boys e os Parkinsons. Sendo sobejamente conhecidos os projectos que surgiram após o desmembramento dos primeiros e cujos nomes têm sido invariavelmente associados à lembrança da formação "mãe" (The Parkinsons, Wraygunn, Bunnyranch, d3o...), os Blood Safari revelam-se já os "netos" dessa colheita que se tem revelado prolífera. Isto porque na calha se encontram dois dissidentes dos The Parkinsons (a banda que se fez à vida no mais puro estilo rock n'roll e se instalou em Inglaterra à cata de melhor sorte). Da fama de aventureiros do rock já não se livram, mas Victor Torpedo e pares esperam que daí advenha também algum proveito. O motivo: os Blood Safari são a réstia de esperança que guardaram todos quantos viram na atitude dos conimbricences um exemplo a seguir e amarguraram com o fim anunciado. Para os que ficaram a salivar, vem o alívio de descobrir neste trabalho os mesmos ingredientes aconselháveis a um competente recital rock. Mas desta vez não estamos perante os The Parkinsons. A formação é bem distinta. É certo que marca o regresso de Victor Torpedo, e que este traz o amigo (também)... Pedro Xau presta-se novamente às lides do sangue, suor e lágrimas com créditos no baixo e na guitarra. Mas não é tudo. Com sede residual em Inglaterra, o projecto conta com a voz de Charlie Fink resgatado dos destroços dos Penthouse e com Glenn Chapman a ocupar-se da bateria. E, a avaliar pelo background de cada elemento, não admira que a combinação não tenha levado muito tempo a dar frutos. Ao todo decorreu aproximadamente um ano desde a formação da nova pandilha até à chegada deste lançamento. A cargo da Rastilho Records, este EP chega aos escaparates em formato vinil de 7 polegadas numa edição limitada a 500 unidades. Nele encontramos distribuidos pelos lados A e B três gritos de ordem perpetrados por Fink e companhia numa amostra daquilo a que os Blood Safari se propuseram criar. Depois de pousarmos a agulha na expectativa de descobrir Everything I Touch Turns To Shit, com que a banda dá início à cruzada, podemos ser levados a crer que a urgência punk é tão previsível que dispensa múltiplas tentativas de apreciação do estilo. É aí que arriscamos um primeiro engano. A trajectória sonora faz um desvio e vai encontrar, onde o punk faz a curva, o rockabilly que buscam aqueles que fazem do country um bastião proeminente da esfera rock. Os Blood Safari integram por certo o lote. Os restantes elementos da fórmula são também já nossos conhecidos, incluindo as palavras subversivas com o dedo apontado aos supostos alarves deste mundo e a promessa de suar as estopinhas em nome da crença punk. A julgar por tais vestígios de rock n'roll tradicional, dificilmente poderão acusar a banda de se apresentar como fashion victims. No entanto, não está de parte a ideia de que o colectivo pretenda criar uma dinâmica à volta do projecto que, mesmo surgindo dissonante da cena pulsante do momento, possa vir a reunir uma trupe de fiéis seguidores. Os Blood Safari estão aptos a criar o seu espaço, o seu público, a sua onda. Esta primeira amostra reunida no presente EP não deve surpreender os ouvidos atentos a estas andanças. Muito bem embrulhadinho em invólucro "faça você mesmo", espera-se que o produto agrade a fãs e coleccionadores ansiosos por ver a sanguinária bebida transformar-se em cocktail molotov. [Eugénia Azevedo]
DISCOGRAFIA
ZOMBIE SLAVE [7"Single, Rastilho Records, 2007]
DEATH RODEO [CD, Rastilho Records, 2007]
COMPILAÇÕES
ENTULHO SONORO 03 [CD, Underworld, 2007]
PRESS
Blood Safari vs Wraygunn, Joaquim Pedro, Underworld nº24, 07-2007
Este blogue é uma cópia (feita em boa hora) do extinto Under Review https://underrrreview.blogspot.com/
terça-feira, 20 de junho de 2017
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