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sexta-feira, 23 de junho de 2017

BANDA DO CASACO

Nascida do encontro de elementos vindos do jazz, como Nuno Rodrigues e da inclassificável Filarmónica Fraude de António Pinho, a Banda do Casaco viverá muito da liderança destes dois elementos e da sua capacidade para se rodearem de excelentes vozes e instumentistas. Uma das características da banda será a frequente mudança de formação, mantendo-se Pinho, Rodrigues e o violoncelista Celso de Carvalho e, mais tarde, António Pinheiro da Silva, como núcleo duro. Em 1973 dá-se o encontro entre António Pinho e Rodrigues, que iniciam de imediato a escrita do seu primeiro álbum, "Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Bonifácios", apenas editado em 1975. O nome do álbum denotava já o tom surrealista que vai acompanhar toda a obra do grupo, surrealismo esse acentuado pelos desenhos de Carlos Zíngaro na capa do LP. No ano anterior saíra um single com os temas "Ladainha das Comadres" e "Lavados Lavados Sim". No disco colaboravam Judi Brennan e Helena Afonso nas vozes, Carlos Zíngaro, Luís Linhares, José Campos e Sousa e Nelson Portelinha. António Pinho, assina todas as letras e Nuno Rodrigues compôs os temas com excepção de "Aliciação" e "Opúsculo". Mas é no ano seguinte que sai o primeiro disco verdadeiramente marcante do grupo, "Coisas do Arco da Velha". O talento satírico dos trocadilhos de Pinho conjuga-se com soluções inovadoras, e o disco é marcado pela guitarra de Armindo Neves e pelo violino de Mena Amaro, que substituiu Zíngaro. Cândida Soares participa e reforça a vocalização, ao mesmo tempo que ganha um nome artístico: Cândida Branca-Flor, do título da terceira faixa do disco, "Romance de Branca-Flor". Temas como "Canto de Amor" e "Trabalho", "Morgadinha dos Canibais", ou "Cantiga d'Embalar Avozinhas" contribuíram para um inesperado sucesso junto do público e da crítica, que o considera disco do ano. Se em "Coisas do Arco da Velha" a recolha etnográfica, depois livremente trabalhada e adaptada, é ainda decisiva para o resultado final, o álbum seguinte da Banda do Casaco inclina-se para a experimentação e o vanguardismo. "Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos" (1977), pretendia ser uma sátira à instabilidade económica e à precaridade social do país. Num álbum onde são significativas a entrada para o grupo de António Pinheiro da Silva e as colaborações dos iniciados Gabriela Schaaf na voz e Rão Kyao no saxofone tenor, destacaram-se os temas "País, Portugal", "Geringonça" e "Acalanto". Este álbum é uma das jóias perdidas da nossa música popular. No ano seguinte, "Contos da Barbearia" sintetiza os trabalhos anteriores, incorporando as colaborações do contrabaixista José Eduardo e do baterista Vitor Mamede, além do regresso de Zíngaro. Mas é preciso esperar três anos mais para, em 1981, sair novo disco da banda que viria a causar forte impressão junto do público e da crítica. "No Jardim da Celeste" trazia duas novidades: uma sonoridade mais urbana, aproximando-se do rock, e a participação de duas notáveis figuras: Né Ladeiras, na voz, após ter colaborado com a Brigada Victor Jara e os Trovante; e Jerry Marotta, baterista de Peter Gabriel, de reputação internacional, que gostou tanto da banda que veio a Portugal gravar com ela. Do disco sobressai "Natação Obrigatória", presença "obrigatória" nas playlists das rádios. "Também Eu" (1982), é o último álbum de originais do grupo (haverá ainda em 1982 a compilação, em duplo, "A Arte e a Música da Banda do Casaco"), onde se faz sentir a ausência de António Pinho, um dos pilares do projecto. Notabiliza-se "Salve Maravilha", na voz de Né Ladeiras. Em 1984 o grupo dá o seu primeiro e único espectáculo ao vivo*, que deste modo encerra uma década de prodigiosa reinvenção dos pressupostos da música popular portuguesa. Depois da saída do letrista de sempre António Pinho, Nuno Rodrigues (que já assegurara a solo a direcção do álbum "Também Eu" de 1982) reuniu Celso de Carvalho, José Fortes, Ramon Galarza e Zé Nabo. A maior parte das vozes é de Concha (esposa de Rui Guedes que lançou em 1979 o single "Qualquer Dia, Quem Diria" da dupla Pinho/Rodrigues). Nas vozes aparece ainda o próprio Nuno Rodrigues e Ti Chitas, pastora beirâ de Penha Garcia. O álbum foi discretamente reeditado em 1993 com a inclusão da faixa "Matar Saudades" produzida por António Emiliano. Ti Chitas, tocadora de adufe de Penha Garcia (Idanha-A-Nova), é a nova convidada do grupo, que actua ao vivo na entrega dos "Se7e de Ouro". O grupo grava com a velha adufeira o seu último disco "Banda do Casaco com Ti Chitas", antes de desaparecer. Com o fim da Banda do Casaco, a música portuguesa ficou orfã da irreverência que fazia do grupo um dos mais originais de Portugal.

DISCOGRAFIA


LAVADOS, LAVADOS SIM [7"Single, Philips, 1974]

 
DOS BENEFÍCIOS DE UM VENDIDO... [LP, Philips, 1975-1993]

 
COISAS DO ARCO DA VELHA [LP, Philips, 1976]

 
É TÃO TRISTE NÃO SABER LER [7"Single, Philips, 1977]

 
HOJE HÁ CONQUILHAS, AMANHÃ NÃO SABEMOS [LP, Imavox, 1977]

CONTOS DA BARBEARIA [LP, EMI-VC, 1978]

 
NO JARDIM DA CELESTE [LP, EMI-VC, 1981]

 
NATAÇÃO OBRIGATÓRIA [7"Single, EMI-VC, 1981]

 
TAMBÉM EU [LP, EMI-VC, 1982]

A ARTE E A MÚSICA DA BANDA DO CASACO [LP, CL, 1982]

 
BANDA DO CASACO COM TI CHITAS [LP, Transmédia, 1984]

 
DONO DA NOITE [7"Single, EMI-VC, 1984]

BANDA DO CASACO COM TI CHITAS [2xLP, Transmédia, 1989]
PASTORA DE PENHA GARCIA [CD, Transmédia, 1993]
HÁ UM TEMPO PARA TUDO [CD, Transmédia, 1994]
NATAÇÃO OBRIGATÓRIA [Colecção Caravela] [CD, EMI-VC, 1996]

 
O MELHOR DE 2 [2xCD, Universal, 2001]

 
40 ANOS DE SOM [CD, CNM, 2013]

 
CAIXA VERMELHA [5xCD, CNM, 2013]

 
ORIGENS [CD, CNM, 2013]

 
DOS BENEFÍCIOS DE UM VENDIDO [Reissue] [CD, CNM, 1975-2013]

 
COISAS DO ARCO DA VELHA [Reissue] [CD, CNM, 1976-2013]

 
HOJE HÁ CONQUILHAS, AMANHÃ NÃO SABEMOS [Reissue] [CD, CNM, 1977-2013]

 
CONTOS DA BARBEARIA [Reissue] [CD, CNM, 1978-2013]

 
CAIXA NEGRA [3xCD+DVD, CNM, 2013]

 
NO JARDIM DA CELESTE [Reissue] [CD, CNM, 1981-2013]

 
TAMBÉM EU [Reissue] [CD, CNM, 1982-2013]

 
BANDA DO CASACO COM TI CHITAS [Reissue] [CD, CNM, 1984-2013]

 
AO VIVO [DVD, CNM, 2013]

COMPILAÇÕES

 
MÚSICA NOVA, MÚSICA NOSSA [LP, Vadeca, 1982]

 
MILLENNIUM [CD, EMI-VC, 1996]

PRESS
Ao Vivo na Encarnação, Música & Som 14, 25-08-1977
Dez Anos ao Toque da Banda, Rui Monteiro, Música & Som 92, 06-1984
Outras Músicas, Critina Ruiz, Blitz nº 458 de 10-08-1993
Audição Obrigatória, António Pires, Blitz nº 473 de 23-11-1993
Hoje Há Banda do Casaco, Rui Miguel Abreu, Revista Blitz 91, 01-2014